O CIRCO
Chagaspires.
As crianças do meu bairro ficavam numa impaciência medonha com a chegada do circo.
Lá pelos idos de 1956 para que alguém ou alguma coisa pudesse se estabelecer na vila da Fábrica em Camaragibe; precisava que os donos da Fábrica de Tecidos permitissem.
A chegada de algo diferente servia para nos tirar da rotina e por em pavorosa as pessoas do pequeno bairro, e como não podia deixar de ser eu e meus irmãos entrávamos para esse time.
Minha mãe nos advertia para termos cuidados, pois o povo de circo naquela época tinha a fama de raptar crianças, porém a curiosidade era maior que o medo e ficávamos por perto dos trabalhos de armação da lona até vêla suspensa.
O rendimento familiar era pequeno, e sabíamos que nossa mãe não teria recursos para comprar ingressos; porém havia uma solução para conseguirmos entrar de graça no circo.
O palhaço que era uma das atrações do mambembe, logo sairia para fazer propaganda pessoal e precisaria de crianças para ajudar com gritos de respostas as suas indagações. Ele prometia que os meninos que o ajudassem na empreitada, entrariam de graça para a matinê do novo mundo colorido.
Com bastante medo, porém decididos a entrar no espetáculo da tarde; eu e meus dois irmãos nos oferecemos para andar atrás do
” fazedor de graças” naquela manhã. Ele colocava uma marca de batom em forma de x na testa da meninada dizendo que só entraria no circo aquele menino que tivesse aquela marca; e teríamos de conservá-la assim até a hora da entrada. E então todos felizes seguíamos cantarolando na comitiva do famigerado.
O palhaço gritava assim: “Hoje tem espetáculo”, e nós respondíamos: “Tem sim senhor”, “Às oito horas da Noite”, “Tem sim senhor”, “E vai ter trapezista”, “Vai sim senhor”, “E vai ter malabarista”, “Vai sim senhor”, “E vai ter rumbeira”, “Vai sim senhor”, “E arrocha negrada e nos respondíamos: “ÊH Êh Êh Êh....
Quando já havíamos passado por muitas ruas, e já estávamos próximos do retorno, de repente numa das curvas do caminho, surge à figura dantesca de nossa mãe com um cipó de goiabeira nas mãos, e bramindo para o nosso lado o látego improvisado, nos fez sair em disparada em direção a nossa casa.
Levamos umas boas cipoadas, porém o que doeu mais que a surra, foi ela nos ter obrigado a tomar um banho tirando a marca do batom da testa.
Nossa salvação foi meu irmão mais novo; pois ele tinha os cabelos vermelhos a caju, e o palhaço nos reconheceu através dele, e como a mamãe era professora da escola da fábrica e ensinava à tarde; pudemos participar do almejado espetáculo fazendo jus a todo aquele esforço dolorido.