A CANELA DE BOI
A CANELA DE BOI
Na vida fazemos coisas por impulsos, que nunca mais podemos voltar atrás, por mais arrependimentos, que possamos ter.
Às vezes eu penso cá com meus botões se arrependimento matasse acredito que eu já teria morrido.
Com o tempo eu aprendi que é muito mais saudável pensar para poder fazer do que fazer para poder pensar.
Pouquíssimas pessoas tomaram conhecimento desse triste episódio que passo a relatar: quando eu era adolescente tomei uma atitude injustificada, que até hoje não posso entender o porquê de tão severa decisão contra meu amado pai, o senhor Mariano Marques um homem com letras maiúsculas.
Estava o meu saudoso pai jogando baralho em uma casa de jogo no centro da cidade de Itapipoca e nesta época eu estava começando a tomar umas cachaças, naquele dia confesso que me excedi e sem premeditação alguma ao chegar de frente à casa de jogo deparei-me com uma canela de boi já roída pelos cachorros e curtida pelo sol, instintivamente peguei aquele osso e corri em direção à porta da sala de jogos, chegando ao local quebrei-a com a canela e subitamente virei à mesa, todos ficaram absortos, porque ninguém poderia imaginar uma atitude daquela, papai por um instante ficou pasmo, aí então, falou: o que é isso meu filho? Vamos para casa! E sem mais nenhuma palavra caminhamos em direção a nossa casa que ficava a poucas quadras dali e nunca mais papai falou sobre esse maldito episódio, nem eu também.
Passados mais de 20 anos eu resolvi fazer uma carta relatando o ocorrido e pedindo-lhe as minhas desculpas, mas não obtive resposta. O certo é que ele faleceu e nunca mais falamos desse assunto constrangedor, que até hoje ainda sofro a ressaca moral, a qual atormenta o meu espírito e dilacera o meu coração.