A NAU NOSSA SENHORA DA BOA VIAGEM.
Noite angustiante, dantesca. Ventos uivantes a assoprar por toda parte, em meio aos gritos de pavor, gemidos agonizantes, prantos de misericórdia, entre enjoos repugnantes. Relâmpagos a clarear na escuridão, aquele medonho destino, que envolto à força descomunal da água, fazia ranger ensurdecedoramente o madeirame, que se partia. Estrondo de trovões, que ecoavam por entre as montanhas e vales, formados pela fúria do mar revolto, açoitando violentamente e inundando cada centímetro da nau, deixando a todos encharcados. Súplica fervorosa aos céus, por uma salvação impossível, entremeio o brado da morte e a pressa em se desfazer da carga no porão, atirada ao mar indiscriminadamente, tentativa de tornar mais leve a embarcação e assim se ver livre daquele pesadelo real. Narrativa horripilante, dentre outros horrores, que os homens do século XVIII vivenciaram nas embarcações à época: um naufrágio, em meio a uma tormenta em alto mar.
Em 1706 depois de zarpar do Extremo Oriente, acredita-se de Macau na China, em direção a Portugal, a Nau Nossa Senhora da Boa Viagem, comandada pelo Capitão-Mor Francisco Homem Del Rey e pilotada pelo Capitão-Mor Luis de Figueiredo Monterroyo, foi insistentemente castigada por tempestades pelo percurso. Ao dobrar o Cabo da Boa Esperança, mudou sua direção, fugindo das tormentas, para o Brasil. Ficou fundeada no Porto da Cidade do Rio de janeiro, sem os mastros, que foram perdidos em meio aos temporais, e totalmente desaparelhada. Sem condições mínimas de seguir viagem, acabou abandonada. Seus marujos já haviam embarcado em outros navios, quando seu comandante e o piloto decidiram pedir dispensa da Marinha Real Portuguesa, fato habitual à época, e permitido aos oficiais sobreviventes de naufrágios.
Naquela ocasião já corriam de boca em boca, notícias do Arraial do Padre Faria, posteriormente Vila Rica, sobre as esplendorosas jazidas que deram o seu nome a atual cidade de Ouro Preto, ocasionando grandes levas de aventureiros para aquelas bandas. Dentre esses seguiram naquela direção os ex-oficiais da armada de Dom João V, Francisco Homem Del Rey e Luis de Figueiredo Monterroyo, porém, antes da longa empreitada, retiraram da nau, que lhes dera morada por longo período, a imagem da padroeira da embarcação: Nossa Senhora da Boa Viagem. Ao chegarem à Serra do Campo, local que se situa entre as cidades de Ouro Preto e Belo Horizonte, encontraram em uma depressão, uma jazida de ouro, construíram uma pequena capela no alto da serra, onde abrigaram a imagem que carregavam e ali se estabeleceram, dando inicio ao povoamento do local que denominaram, Itaubira do Rio de Janeiro de Nossa Senhora da Boa Viagem. Em pouco tempo o povoado passou a Arraial, Freguesia e Vila, formando o que é hoje a cidade de Itabirito, que em Tupi significa: Ita = pedra, Birito = que risca de vermelho, em razão do minério de ferro abundante na região. A Igreja de N.Sra. da Boa Viagem em Itabirito, padroeira da cidade, foi reconhecida pelo Papa João Paulo I, em seu único ato para o Brasil, como chefe do Vaticano, naquele seu breve papado.
Conflitos pela exploração do ouro em Itabirito, levaram os dois amigos a se separarem, Francisco Homem Del Rey, seguiu para a Serra do Curral, sesmaria de Manuel de Borba Gato, de onde abastecia, de comum acordo, as minas de Luis de Figueiredo de Monterroy, que prosperara na mineração para além das terras de Itabirito. Francisco passou a negociar e enviar gado, vindo da Bahia, ajudado pela posição estratégica do povoado de Curral Del Rei, que foi atraindo cada vez mais pessoas, chegando a ter 8 mil habitantes em sua redondeza, por volta do ano de 1718. Ao sair de Itabirito, Francisco levou consigo a imagem de N.Sra. da Boa Viagem. Na nova terra que lhe serviu de morada, construiu às margens do Córrego do Acaba-Mundo, outra capela, para dar abrigo à Santa, tornando-se seu Padre logo em seguida. O nome de Curral Dey Rey, é em razão de ter havido naqueles primórdios, um curral, onde era separado o gado, destinado à Coroa Portuguesa, em forma de taxação. O povoado foi crescendo ao redor da Capela e em 1755 foi demolida, para a construção de uma Igreja Matriz, que foi concluída em 1793.
Em 17 de dezembro de 1893, resolveu-se pela mudança da capital do Estado, sendo escolhido o Arraial de Belo Horizonte, antigo Curral Del Rey, para receber a sede do governo. Em cerimônia solene, quatro anos depois, aos 12 de dezembro de 1897, o Presidente de Minas Gerais, Crispim Jacques Bias Fortes, inaugurou a nova capital. A Igreja Matriz, construída ao lado da Capela pelo Padre Francisco Homem Del Rey, ficou fora do traçado da nova capital, mas em 1911 foi lançada a pedra fundamental para a construção da nova Igreja de N.Sra. da Boa Viagem. Foi elevada, logo em seguida, à Catedral, e edificada no mesmo local onde fora erguida a primeira Capela. Em 1932 a Igreja antiga é demolida e a protetora dos navegantes, por decisão do Papa Pio XII, em atendimento ao pedido do Cardeal D. Carlos Mota, é levada à condição de padroeira de Belo Horizonte, sua imagem, esculpida em madeira, permanece desde então como referência religiosa Católica da capital do Estado. A Imagem é a herança de dois homens de fé, foi preservada, e hoje se encontra no altar lateral direito da Catedral em Belo Horizonte.
Noite angustiante, dantesca. Ventos uivantes a assoprar por toda parte, em meio aos gritos de pavor, gemidos agonizantes, prantos de misericórdia, entre enjoos repugnantes. Relâmpagos a clarear na escuridão, aquele medonho destino, que envolto à força descomunal da água, fazia ranger ensurdecedoramente o madeirame, que se partia. Estrondo de trovões, que ecoavam por entre as montanhas e vales, formados pela fúria do mar revolto, açoitando violentamente e inundando cada centímetro da nau, deixando a todos encharcados. Súplica fervorosa aos céus, por uma salvação impossível, entremeio o brado da morte e a pressa em se desfazer da carga no porão, atirada ao mar indiscriminadamente, tentativa de tornar mais leve a embarcação e assim se ver livre daquele pesadelo real. Narrativa horripilante, dentre outros horrores, que os homens do século XVIII vivenciaram nas embarcações à época: um naufrágio, em meio a uma tormenta em alto mar.
Em 1706 depois de zarpar do Extremo Oriente, acredita-se de Macau na China, em direção a Portugal, a Nau Nossa Senhora da Boa Viagem, comandada pelo Capitão-Mor Francisco Homem Del Rey e pilotada pelo Capitão-Mor Luis de Figueiredo Monterroyo, foi insistentemente castigada por tempestades pelo percurso. Ao dobrar o Cabo da Boa Esperança, mudou sua direção, fugindo das tormentas, para o Brasil. Ficou fundeada no Porto da Cidade do Rio de janeiro, sem os mastros, que foram perdidos em meio aos temporais, e totalmente desaparelhada. Sem condições mínimas de seguir viagem, acabou abandonada. Seus marujos já haviam embarcado em outros navios, quando seu comandante e o piloto decidiram pedir dispensa da Marinha Real Portuguesa, fato habitual à época, e permitido aos oficiais sobreviventes de naufrágios.
Naquela ocasião já corriam de boca em boca, notícias do Arraial do Padre Faria, posteriormente Vila Rica, sobre as esplendorosas jazidas que deram o seu nome a atual cidade de Ouro Preto, ocasionando grandes levas de aventureiros para aquelas bandas. Dentre esses seguiram naquela direção os ex-oficiais da armada de Dom João V, Francisco Homem Del Rey e Luis de Figueiredo Monterroyo, porém, antes da longa empreitada, retiraram da nau, que lhes dera morada por longo período, a imagem da padroeira da embarcação: Nossa Senhora da Boa Viagem. Ao chegarem à Serra do Campo, local que se situa entre as cidades de Ouro Preto e Belo Horizonte, encontraram em uma depressão, uma jazida de ouro, construíram uma pequena capela no alto da serra, onde abrigaram a imagem que carregavam e ali se estabeleceram, dando inicio ao povoamento do local que denominaram, Itaubira do Rio de Janeiro de Nossa Senhora da Boa Viagem. Em pouco tempo o povoado passou a Arraial, Freguesia e Vila, formando o que é hoje a cidade de Itabirito, que em Tupi significa: Ita = pedra, Birito = que risca de vermelho, em razão do minério de ferro abundante na região. A Igreja de N.Sra. da Boa Viagem em Itabirito, padroeira da cidade, foi reconhecida pelo Papa João Paulo I, em seu único ato para o Brasil, como chefe do Vaticano, naquele seu breve papado.
Conflitos pela exploração do ouro em Itabirito, levaram os dois amigos a se separarem, Francisco Homem Del Rey, seguiu para a Serra do Curral, sesmaria de Manuel de Borba Gato, de onde abastecia, de comum acordo, as minas de Luis de Figueiredo de Monterroy, que prosperara na mineração para além das terras de Itabirito. Francisco passou a negociar e enviar gado, vindo da Bahia, ajudado pela posição estratégica do povoado de Curral Del Rei, que foi atraindo cada vez mais pessoas, chegando a ter 8 mil habitantes em sua redondeza, por volta do ano de 1718. Ao sair de Itabirito, Francisco levou consigo a imagem de N.Sra. da Boa Viagem. Na nova terra que lhe serviu de morada, construiu às margens do Córrego do Acaba-Mundo, outra capela, para dar abrigo à Santa, tornando-se seu Padre logo em seguida. O nome de Curral Dey Rey, é em razão de ter havido naqueles primórdios, um curral, onde era separado o gado, destinado à Coroa Portuguesa, em forma de taxação. O povoado foi crescendo ao redor da Capela e em 1755 foi demolida, para a construção de uma Igreja Matriz, que foi concluída em 1793.
Em 17 de dezembro de 1893, resolveu-se pela mudança da capital do Estado, sendo escolhido o Arraial de Belo Horizonte, antigo Curral Del Rey, para receber a sede do governo. Em cerimônia solene, quatro anos depois, aos 12 de dezembro de 1897, o Presidente de Minas Gerais, Crispim Jacques Bias Fortes, inaugurou a nova capital. A Igreja Matriz, construída ao lado da Capela pelo Padre Francisco Homem Del Rey, ficou fora do traçado da nova capital, mas em 1911 foi lançada a pedra fundamental para a construção da nova Igreja de N.Sra. da Boa Viagem. Foi elevada, logo em seguida, à Catedral, e edificada no mesmo local onde fora erguida a primeira Capela. Em 1932 a Igreja antiga é demolida e a protetora dos navegantes, por decisão do Papa Pio XII, em atendimento ao pedido do Cardeal D. Carlos Mota, é levada à condição de padroeira de Belo Horizonte, sua imagem, esculpida em madeira, permanece desde então como referência religiosa Católica da capital do Estado. A Imagem é a herança de dois homens de fé, foi preservada, e hoje se encontra no altar lateral direito da Catedral em Belo Horizonte.