O Leão com sorte e o Leão sem sorte
“... O Sol nasce para todos e a sombra é para quem é mais esperto...”
Um contador de “Causos” que já está prestes a entrar na segunda década do século 21, não pode ficar preso a caçadas de onças (até porque isso é crime ambiental), histórias de assombração e bravatas de Sertanejo. É preciso atualizar-se. O presente é inspirado num conto do Grande Mestre Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta), que reinou na literatura dos anos 60, mas que continua tão atual como se tivesse vivido ontem.
Conta a Estória, que dois leões que viviam num Zoológico de Brasília, tiveram uma oportunidade e acabaram escapando da grande jaula. Para não serem percebidos saíram em direções diferentes. Um foi para uma Reserva Ecológica pras bandas do Lago Paranoá e outro acabou saindo na Esplanada dos Ministérios.
Tempos depois, os guardas da Reserva Ecológica encontraram o grande felino em estado lastimável de desnutrição. Sem muita dificuldade, devido sua fraqueza, foi recapturado. Foi preciso até intervenção de um Deputado Federal (cujo nome e partido omito porque cabe a acusação o ônus da prova) prá conseguir uma vaga no Zoológico, que não via vantagem reintegrar uma figura tão carcomida pela fome. Chegando de volta, foi atendido pelos veterinários e nutricionistas que estavam de plantão. Dentro de um razoável tempo estava até que bem recuperado.
Muito tempo depois (3 ou 4 anos, sei lá...), eis que o outro ex-habitante das florestas, também é recapturado. Embora com a juba levemente grisalha, mas caprichadamente brilhante, ostentava uma bonita figura e muito saudável (não digo gordo porque isso não é esteticamente correto). No triunfal encontro, não podemos nos furtar da curiosidade de como foi a conversa entre os dois: E daí? Disse o primeiro. Conta-me onde é que você esteve e só depois de muito tempo vem exibindo toda essa beleza de figura? Eu, quando nos separamos, fui prá uma Reserva onde tudo o que é referente à Natureza fica superprotegido e pouco depois, não fora a minha debilidade física, que facilitou a recaptura, teria morrido de fome...
Ah, Rapaz!!!, Nem sei como te contar! De repente me vi na Esplanada dos Ministérios. Entrei, mas o pessoal estava tão entretido na conversa, sobre o fim do Brasileirão, que nem me viu. Então fiquei. Quando dava fome comia um funcionário. Ninguém reclamava porque continuavam presos à conversa e o cara não fazia falta... E não tinha perigo de acabar porque número de funcionários públicos da República sofre ininterruptamente uma reposição sustentável... Olha! Variei o meu cardápio segundo minha criatividade. Comi magro, gordo, mulher, homem, negro, japonês, Diretor, Chefe de Sessão e tudo o mais... Certa feita comi até um Senador da República. Como sua carne era tenra experimentei também um Deputado, prá ver a diferença. Era um pouco mais duro, mas muito bom!!! Ué!!! E por que foi recapturado? Então... Diante de tanta fartura acho que me deslumbrei um pouco e não tive o devido cuidado. E dai um dia comi o camarada que servia o cafezinho. O pessoal se alvoroçou e partiu prá descobrir a causa de seu desaparecimento. E foi assim, que eu fui preso... (Oldack/20/10/010). Tel. (018) 3362 1477.