"O Caçador de Onças."



Toda vez que parava na venda do seu Mundico, encontrava uma turma da pesada.
Com este pessoal maravilhoso, que conhecia de tudo, um era raizeiro, outro folheiro, outro casqueiro, enfim todos botânicos A.Doc.
Realmente conheciam muito de plantas do mato e ajudavam muita gente em seu desconforto de uma dor ou mal estar.
Depois vinham os pescadores, os domadores, os laçadores, os enxadeiros.
De Todo este time, conheci o Sr. Tonico.
Este era especial, caçador, mas caçador de onça.
Hoje este tipo de profissional é extinto, mas naquela época.
Contam que em uma região acabou o sossego.
Uma danada de uma pintada estava fazendo um grande estrago.
Para sair de casa precisava ter uma escolta e de manhã a notícia.
A pintada comeu a vaca de leite do...
Ou a onça comeu o cavalo de... E assim ia.
Os sitiantes se reuniram e foram contratar o serviço de Seu Tonico.
Preocupado com a veracidade do caçador, escolheram uma pessoa para testemunhar o fato.
Por um azar muito grande, o escolhido fui eu.
Como quem gosta de mim sou eu, peguei uma espingarda calibre doze de dois canos e um punhado de cartuchos e com medo falei,
-Vamos lá, na pior das hipóteses, eu protegeria o velho.
Pior ainda o Senhor Tonico tinha mais de sessenta anos.
Eu tinha ouvido falar, mas, não o conhecia.
Quando nos apresentaram, não falei nada por educação, mas pensei.
Coitado, esta vai ser sua última caçada.
O homem era puro osso, devia pesar uns quarenta quilos, com dois cachorros velhos, também magros de fome e um negócio que parecia de ferro de construção de um metro pouco mais, que chamava de zinga.
Acho que ele era caçador de onça porque tinha muita necessidade.
Todo dia é bom para caçar onça, mas esta noite escura é a melhor.
Saímos próximo de onde tinha sido seu último ataque.
Seu Tonico falou:- Ôce com este equipamento, se quiser eu te deixo matar a bicha.
Não Seu Tonico, ela é sua, vou só apreciar.
Eu quase que não faço nada os campeão é a donzela e o macarrão. Eram os cachorros dele.
Comecei a pensar sinceramente a pensar em uma retirada estratégica, sei que vai ficar feio, vão rir de mim, mas vou estar aqui para escutar e xingar também.
Acho que estou na água de salsicha. Caminhamos pelo mato até quase onze horas.
Aí a donzela e o macarrão ficaram indóceis.
É a onça falou Seu Tonico, tá por perto.
Acho bom o senhor ficar atrás de mim falei para ele.
Ligo não moço, não tem frente nem verso, ela pode vir de qualquer lugar.
Tirou a zinga que estava enrolada em um pano. Os cachorros desapareceram, a gente ouviu os latidos longe.
Corre para lá, corre para cá, ouvi o grito, Seu Tonico falou.
-Ela é esperta, meus cachorros morreram. De repente, ao passar por baixo de uma galhada, minha espingarda enroscou.
Quando finalmente me desvencilhei dos cipós, vi Seu Tonico parado, parecia uma estátua de sal.
Acompanhei seu olhar e vi uma onça gigante em um galho acima de nós.
Estava mais ou menos a dois ou três metros.
Travei total.
Quando a bicha saltou, Seu Tonico levantou a zinga, e a onça enfiou-se de peito até o cabo da estranha arma.
A terra desapareceu abaixo de meus pés.
Voltei por mim algum tempo depois Seu Tonico, estava enfaixando o segundo cachorro, o primeiro já havia recebido seus cuidados.
A minha espingarda estava caída ao chão, se dependesse deste caçador, esta hora eu, Seu Tonico, e seus dois cães, estariam morando na barriga da pintada.
Seu Tonico além de caçador de onça, era também um cavalheiro em nem um segundo ele falou que eu amarelei, disse que eu estava firme a seu lado o tempo todo.
Eu que sempre duvidei de valente, hoje testemunho que pessoas como Seu Tonico, existem e não são poucos.
Por curiosidade depois do ocorrido, fui saber a respeito de nosso herói.
Ele não tinha sessenta anos não, tinha setenta e dois e caçava onça desde pequeno, não sei falar que idade, mas se ele falar pode acreditar o homem não mente.
Em contrapartida, o próprio Seu Tonico, disse que veio á capital, presumo São Paulo, e quase morreu de medo. Senti um grande alivio, pois acho que todos somos um pouquinho heróis.
Quem levanta de madrugada encarando ladrões, frio, chuva e ônibus lotado, também é herói.
Nós escrevendo e com medo do leitor, que virá com duas pedras nas mãos.
Também a nossa moda somos heróis, talvez não como o caçador de onça, mas só um pouquinho.
Tem críticas que são piores que onças (duas)
OripêMachado.

Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 18/11/2011
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