O Bicheiro da Mooca

As viaturas pararam em frente ao cortiço que tinha ali na Rua do Oratório , no bairro da Moóca, nos meados do natal de 1990. Alguns rapazes que estavam próximo ao enorme portão, ao perceberem a aproximação, entraram correndo e se trancaram lá dentro.

Os policiais fortemente armados desceram das viaturas e ficaram conversando entre eles por alguns minutos.

Um pouco abaixo do cortiço, do outro lado da rua, tinha o bar do Gino. Alguns fregueses saíram para a calçada e ficaram observando a movimentação.

Todos sabiam que ali no cortiço funcionava uma boca de drogas e no mínimo uns dois ou três que ali moravam eram fugitivos da polícia. Na realidade o local era um verdadeiro antro de marginais que se utilizavam do muquifo para o uso de drogas e para guardarem mercadorias roubadas. Diziam inclusive que alguns dos cômodos eram usados como cativeiro de pessoas seqüestradas pelas quadrilhas que freqüentavam o cortiço.

De dentro do bar o Gino gritou para o pessoal:

----Vocês vão ficar moscando ai do lado de fora? Se eles invadirem a boca vai sobrar bala pra todos os lados! Ouvi dizer que os vagabundos ali do cortiço tem até metralhadora!

O pessoal entrou, porém alguns deles ficaram olhando pelo canto da parede, junto à porta, tentando assistir ao desfecho da suposta invasão policial.

----Até que enfim a polícia tomou vergonha na cara e vai acabar com a safadeza que vem acontecendo ali naquele cortiço! –Esbravejou o Seu Nerino.

Os policiais prostraram-se junto ao enorme portão e continuaram conversando entre eles, tramando, talvez, qual a melhor maneira de invadirem a maloca.

Depois de alguns minutos de confabulação atravessaram a rua em direção contrária e invadiram a casa do seu Nonô, um senhorzinho de 82 anos, que fazia apostas do jogo de bicho na área coberta que tinha junto a sala de sua casa. Logo em seguida saíram com ele algemado e o colocaram em uma das viaturas.

O pessoal que estava no bar correu em direção aos policiais, na tentativa de socorrer o pobre ancião. Não teve conversa. Ele estava sendo detido por contravenção, explicou um dos soldados. E enquanto as viaturas saiam cantando os pneus em direção ao Distrito Policial, alguém ligou para o Pedrinho, que era o banqueiro da área, para avisá-lo que o Seu Nonô havia entrado em cana.

Logo a rua se aquietou novamente. Os rapazes do cortiço abriram o enorme portão e tudo voltou ao normal.

----Pouca vergonha!!! –Esbravejou o Seu Nerino, que após cuspir na calçada, voltou ao seu canto e continuou bebendo a sua cerveja.