# ERNESTO E A CABAÇA DE MILHO #

Ernesto rima com honesto, mas o causo é completamente diferente, pois de honesto Ernesto não tinha nada, ou melhor, quase nada.

Quando rapaz seu pai lhe chamou para poderem conversar um pouco sobre Deus e pediu ao filho que fosse mais a igreja, pois notava - se que este estava meio afastado das celebrações. Seu pai achando que o filho freqüentando mais a igreja melhoraria suas atitudes e estaria mais perto do Reino de Deus. Então sugeriu ao filho que toda vez que ele fosse à missa aos domingos, deveria colocar um grão de milho em uma cabaça, sendo que quanto mais milho, mais missa e assim mais perto de alcançar a Glória dos Céus. Lembrando que para conseguir um lugar no Céu, já fizeram de tudo, desde a “TORRE DE BABEL”, até fazendeiros riquíssimos compravam dos padres um lugarzinho no Céu. Tipo: _ Vou mandar reformar sua igreja Padre, mais vê lá em, garanta meu terreninho junto de Deus.

Ernesto resolveu então seguir o conselho do seu velho pai, pois não via nada de mais nisso. Toda missa que Ernesto ia, chegando em casa colocava um grão de milho na tal cabacinha, ficando todo satisfeito em digamos obedecer a seu pai. Ernesto foi a missa ano após ano porém suas verdadeiras intenções eram somente marcar presença, pois nem se dava conta do que o Padre falava. Sempre ficava observando as pernas das mulheres, as curvas da cumadre, o chapéu de lebre do dono da farmácia, a camisa xadrez do Zé da venda, as butina nova do Tião, paquerava as moças e até mechia com as muié dos otros. Ora ele se preocupava em fazer uns catira, vendia porcos, comprava carro de milho, tratava de fazer uma empreitada para fazer o acero na cerca lá da fazenda, e sempre de olho na mulherada, ele era muito maldoso, pois dizia que sabia até se as moças já tava perdida( moça que não era virgem), só de olhar pra o corpo delas: _ Toinhô cê tá veno a Vera, fia do sô João, oia a bunda dela! Já tá inté caída, e os peitinho então já bambiaram e tão muchô. Tô te falano home, ela nun presta não! Certo dia Ernesto chegou até fingir de padre, se escondeu no confessionário só para ouvir o que as mulheres iriam confessar; Quando ouviu a mulher do dono do açougue dizer que tava pulano cerca, costurando pra fora, enfeitano a cabeça do home e queria o perdão do “padre” ele não agüentou e caiu na gargalhada, sendo descoberto.

Os anos se passaram, Ernesto casou-se, teve muitos filhos e muitos netos, seus dias estavam findando , já morimbundo a pele em cima dos ossos, sua família então, chamou o padre para que ele pudesse receber a extrema unção, e Ernesto ao ver o Padre acenou que pegasse a cabaça que estava na penteadeira, e abrissem pois ali se encontravam todas as missas que ele havia assistido durante sua vida e isso iria lhe garantir o Céu. E para a surpresa de todos a cabaça só continha um grão de milho, pois foi apenas uma missa que Ernesto assistiu contrito em Deus e em seus ensinamentos, ele ia à missa, não para rezar mas para negociar, falar mal das pessoas, julgar o próximo, era mesmo um pecador.

HOMENAGEM AO MEU SAUDOSO PAI Sr.ANTÔNIO

Este causo me foi contado pelo meu saudoso e querido pai, que está no Céu, ele me contou como um grande ensinamento, pois o que vale nesta vida são nossas intenções, não devemos nunca julgar para não sermos julgados, devemos ter uma religião, não importa a crença, a fé, o amor, a caridade e o coração puro, são essenciais para Deus, foi isso que herdei do meu pai.

maria meiga
Enviado por maria meiga em 15/11/2011
Reeditado em 15/11/2011
Código do texto: T3337783
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