A Tenra Franga e a Profunda Indigestão
“...gostaria de parecer aquilo que não consegue ser...”
A música Caipira (ou música de raízes) sempre foi uma fonte inesgotável de “Causos”. Ou então os “Causos” se tornavam uma fonte inesgotável de inspiração para a música Caipira. O Presente se refere a uma dessas obras, que ouvi “nos idos de num sei quando”. Só sei que se passou nos princípios dos anos 60, no Norte do Paraná. Prá ficar mais fácil vou caracterizar primeiro os personagens pra depois me ater somente ao relato.
- Elton Rodrigues: Caixeiro viajante de uma famosa marca de alpargatas. Montado num Jipe, ano 56, se não me engano. Por ser de origem humilde e de repente consegue uma ocupação rentável, isso lhe sobe à cabeça. Com sua auto estima elevadíssima, falava alto e estava sempre fazendo “gracinhas”. Na verdade, acabava não respeitando ninguém. Mas não era mau...
-Família Pereira: Francisco Venâncio Pereira (Pai), D. Euzébia (Mãe), Pedro, Manuel e Ritinha (com 19, 18 e 15 anos, respectivamente). Um casal jovem, (na casa dos 40) e pais de três filhos saudáveis e bonitos. Proprietários de um bom sítio, donde, trabalhando sempre juntos, retiraram recursos prá criar e educar todos.
Diante das dificuldades, muito comuns aos pequenos proprietários, acabaram sendo “vítimas do Êxodo Rural”. Venderam o sítio e compraram um “Quarteirão” em um lugarejo que ficava à beira da estrada. Construíram uma espaçosa casa (à moda caipira) com um enorme salão à frente onde se poderia explorar algum tipo de negócio.
Baseados em sua experiência no campo e nas habilidades culinárias de D. Euzébia, resolveram abrir ali um pequeno restaurante. Terra e mão de obra prá se tocar uma pequena horta e criação de pequenos animais tinham à disposição. O movimento na estrada era intenso o que foi transferido para o estabelecimento com certa facilidade. Pedro e Manuel cuidavam da parte agrícola. Seu Francisco, gerente, sempre presente em todos os cantos, D. Euzébia na cozinha e Ritinha de Garçonete. Tudo corria e continuou correndo muito bem.
O fato pitoresco ocorreu quando num dia de bom movimento, na hora do almoço, encostou o Jipe azul pilotado pelo “Pavão” Elton. Sentou-se à mesa, pediu uma cerveja e disse que queria almoçar. Ritinha disse então, que a especialidade era franga caipira. Indagado de que forma queria seu preparo, o engraçadinho respondeu: “Se for uma franga nova e bonita como você eu como até crua”. Ritinha foi atingida como se tivesse levado uma bofetada. Chegou na cozinha, chorando, e relatou aos pais que estavam amontoando, num canto, um feixe de lenha, o ocorrido. Seu Francisco mandou chamar Pedro e Manuel e depois de relatar o fato disse pra D. Euzebia “picar” meia franga. Ajeitou, um tanto à mostra, um Taurus 38 na cinta e com os dois filhos, levou à mesa do ilustre freguês: “Ta aqui o seu pedido! Aqui fazemos questão de atender o freguês nos seus mínimos detalhes”. Colocou a travessa sobre a mesa, puxou uma cadeira a uma certa distância , feito que foi repetido pelos dois irmãos. “Agora, prá evitar qualquer tipo de confusão: O SENHOR COME!!!”
Não se conhece com maiores detalhes como terminou a história, mas podemos pressupor que aquela foi a mais PROFUNDA E INDIGESTA refeição que o jovem Elton saboreou. (Oldack/04/10/010) Tel. (018) 3362 1477.