"Mordida de Cobra"

Na fazenda Cravinhos o baile era só alegria. Ao som de musica da terra, que um sanfoneiro e um violeiro, exímios músicos e cantores brindavam o público presente. Casais giravam céleres pelo salão numa alegria insana. O único participante que não manifestava sentimentos era Paulão, rapaz forte, bonito, porém de poucos amigos. Volta e meia era abordado por uma jovenzinha mais afoita que tentava arrastá-lo para o centro do salão. Ali poderia acontecer tudo, dentro do respeito e da moral, menos aquilo. Berenice, filha do coronel Etevaldo, dono de terras e vidas, talvez pelo jeito, atitude não sei, se enamorou do rapaz. Pasmem, aquele rapaz pacato, quieto ao extremo, também se enamorou dela. No olhar de ambos, houve gula sede tesão, sei lá, amor, só que incontrolável. Se engalfinharam em uma dança, que virou outra, e outra e outra. Mas o que seria alegria de muitos, foi motivo de tristeza para ambos. O braço direito do coronel, Otaviano que nutria simpatia pela bela Berenice, embora nunca tivesse coragem de se declarar, talvez por não haver reciprocidade. Sentiu-se um marido traído e vieram as provocações. Seria subordinado de Otaviano que exerceu seu poder. Para quem está acostumado a bater em cavalo amarrado, Otaviano teve triste decepção, embora os dois fossem muito fortes, Paulão demonstrou habilidades desconhecidas de todos e Otaviano depois de pequena luta dormiu o sono dos justos. Berenice, culta estudada em cidade grande foi totalmente dominada por Paulão, seu novo amor, que saiu com ela da festa. Após o termino, um verdadeiro pelotão comandado por Otaviano foi à caça de Paulão.

Pouco se sabia de Paulão, mas no desfecho que houve, tudo sobre ele veio à tona. Seu nome Paulão do Jaguaribe, (vulgo veneno de cobra). Pistoleiro homicida, com inúmeras mortes a ele atribuídas, além de Otaviano e mais nove ou dez ajudantes que foram trucidados, se tivessem a mais leve suspeita teriam se precavido ao tentar vingar a ofensa do baile. Nunca mais se ouviu falar em Berenice e Paulão que provavelmente montaram família e vivem por aí pelo Sindona ou D’abril da vida.

Nota do autor: Eu cheguei a conhecer o Paulão, mas sempre com muito cuidado por saber que quem mexe com cobra acorda mijado, e o bicho era fera.

OripêMachado.

Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 09/11/2011
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