O CUMPADRE E OS SETE BILHÕES
- Num foi no terço onte cumpade?
- Tô contano o povo cumpade.
- Que povo?
- Iscutei a tar da televisão falano que sumo mais de sete bilhão de pessoa; antão risorvi contá...
- Muringa boa hein cumpade?
- Que nada sô, já faiz mais de treis dia que conto, conto, a muringa faia, conto de novo e não dô conta.
- Proquê ce num conta um carrero de furmiga?
- Acha que num tentei? Cabô as furmiga e nem meiei a conta.
- Antão vai lá pa tuia e conta os grão de arroiz queocê guarda pra cumê?
- Vá lá pro cê vê! Tem monte de arroiz pra tudo quanto é lado. Fiz uma confusão danada com mil, milhão, bilhão... Risorvi antão fazê um monte de chinês, outo de indiano, oto de americano, africano, outo europeu...
- Aí deu certo?
- Deu nada cumpade.
- Caos de quê cumpade?
- Esse povo cruzô munto e virô um amuntuado de grão de arroiz que num cabei a conta.
- Mais cumé que ocê feiz antão?
- Risorvi contá os rico separado dos pobre.
- Antão deu certo?
- Os rico num deu nem um saco de arroiz.
- E os pobre?
- Foi mais fáci. Peguei um copo de arroiz e contei...
- Quanto que deu cumpade?
- Não alembro mais tipriquei um copo por cada cachaça que multiplicado por um fio em cada copo deu um resurtado de seis bilhões, novecentos e cinqüenta milhões, novecentos e cinqüenta mil, novecentos e cinqüenta pobre.
- Mais que farta de educação cumpade?
- Caos de quê?
- Tem esse tanto de rico não sô!
- Isso qué farta de educação...
JOSÉ EDUARDO ANTUNES