ANZOLADA NO DEDO
Noite quente na beira do rio Cuiabá, nem uma pequena brisa, só se ouvia os curiangos e as corujas até os peixes não estavam batendo, alguns pescadores insistiam, mas nada, nem uma beliscada, já havíamos tentado durante o dia, mas também nada. Eu disse aquela frase da oração do pescador amador, “O importante é lá estar,” vale como conforto, mas estávamos torcendo para algum peixe abocanhar aquela isca lavada, nem uma piranha apareceu, mesmo com o calor, mano veio foi para a barraca e eu continuei a insistir, até que enfim um mandí prata arrastou meu anzol, e isto me fez continuar, era quase quatro horas da madrugada e o silêncio foi quebrado com grito dos pescadores.
Lampiões sendo aceso, barcos desciam o rio, que teria acontecido? Logo fomos saber, um cardume de jurupocas e cachorras facão subiam o rio, não esperamos muito, também entramos no barco e fomos ao encontro do cardume, nesta época não tínhamos concientisados
a respeito dos cardumes, mas mesmo assim soltávamos os fora da medida.
Tinha-mos alguns lambaris em um balde e logo chegamos ao local e começamos a fisgar enormes jurupocas, de vez em quando uma cachorra, estava uns vinte barcos apoitados no local, e quando embarcava-mos alguma a risada era na certa, alguns pescadores latiam imitando cachorros, pelo modo de puxar se conhecia qual peixe que era, as jurupocas para baixo, e as cachorras davam belos saltos e as vezes cortavam a linha. O dia já havia amanhecido, já havia-mos embarcado algumas de grande porte, era hora de retornar-mos ao acampamento e preparar o café da manhã, no deslocamento eu contemplava a bela aurora com a neblina se desipando e os raios solares abrindo brechas douradas atrás das árvores, curtir este maravilhoso momento é um privilegio
Que o Criador nos dá. Eu despreocupado amarrava um novo anzol, a cachorra havia cortado a linha, quando de repente a tampa da caixa de isopor sai e eu imediatamente tento pegá-la e com o movimento o anzol fisga no meu dedo, caramba que dor, já estávamos aproximando do local e eu gemendo e os companheiros rindo, disseram que eu estava urrando e faziam gestos e imitavam meus gemidos, eles se ofereceram para tirar o anzol, mas não aceitei,
Falavam que era só corta-lo com o alicate e retirar, eles haviam tomado alguns goles e não confiei, eu mesmo resolvi tira-lo, fui para traz da barraca, derramei um pouco de pinga no dedo, tomei um gole e comecei a retirá-lo com o alicate, a dor era tanta que molhei as calças. Mas valeu a pena pois consegui, fiz um curativo, tomei o café da manhã e voltei a pescar. Resumindo, tem muitos perigos em uma pescaria, ferrões de peixes, mordidas, temos que ter bastante cuidado na hora de tirar o anzol, se engarranchar o perigo é quando puxar a linha e a chumbada voltar em nossa direção como uma bala. Mas tudo por uma boa pescaria. Foi um dia maravilhoso, pescamos muito, respeitamos e soltamos os fora da medida, o movimento dos peixes já havia diminuído, preparamos um belo almoço com peixe e arroz e tomamos umas latinhas para comemorar. A noite ainda pesquei até altas horas ouvindo os roncos que vinha das barracas dos pescadores cansados e felizes. Mano veio havia levado sua vara para dentro da barraca, quando ouvi ele gritando, peguei, peguei, achei que ele estava sonhando, mas havia pescado um enorme pintado, saiu da barraca e começou a arrasta-lo, peguei o puçá e entrei na água para ajudá-lo e a briga começou, - Saia daí, largue meu peixe, e eu insistia até que conseguiu arrastá-lo para a praia, o outro companheiro acordou e emocionados fomos admirar o belo exemplar.