"Tião e a Mulher do Traficante"

Sebastião de Jesus Correia Sampaio, vinte e três anos, cabelo baixo, quase raspado. Bigode fino, perfumado. Gostava de perfume, comprava de um colega, que fabricava no fundo do quintal.
Casado e muito bem casado, D. Rosalva de Jesus Correia Sampaio.
“Do” para os íntimos... Para os íntimos vírgula, só para mim!!!
A nega nasceu com o samba no pé.
Baixinha para mim, que tenho um metro e noventa, ela deve ter um metro e setenta não mais que isto.
Costura para a escola e lava roupa para um time de futebol da comunidade.
Fim de semana, de dia eu jogo bola e tomo umas birita, de noite, deixamos as crianças na casa da comadre Duda e vamos para o samba.
Nega, você parece pinga, quanto mais veia, mió.
Ela se ri, joga as cadeira para mim, eu chamo no pandeiro e nos dois recebe até premio nas quadras que vamos visitar.
Em casa no fim de semana, ela trás um tira gosto e dá uma bicadinha na minha caipirinha, aí eu corro a mão naquela bunda roliça.
Aí ela fala.
- Nego safado, não respeita nem os fios, olha os meninos ali, volta para a cozinha, mas eu vejo o ar de riso na cara dela.
Depois do almoço, vamos descansar e a molecada vai jogar bola no campinho perto de casa.
Aí, eu estou deitado dormindo, ela fala estou tão cansada, acho que vou me estirar um pouco.
Ela não chega a deitar, eu a puxo, ela cai na cama e falo umas palavras bonitas para ela.
Vai quebrar a cama, nego safado, uma mulher direita não pode nem descansar sossegada?
Mas, é muito amor para dar e a gente se enrola nos amasso.
A molecada não entra embora a porta esteja só encostada;
O pai e a mãe estão namorando e dão risada.
Temos três filhos homens, ela não quer mais.
Disse que a assistente social ou sei lá o que?
Falou para ela fazer controle familiar.
Tomar remédio, eu não deixo, falo para ela, isto dá câncer.
Nos somos abençoados, só nasce criança com saúde. Queria ter uma pretinha, igual a você.
Ela ri e mandamos ver, e a assistente social fala esta tomando remédio, ela responde tô.
Outro dia um dos meninos quebrou o braço, eu não sabia peguei ele e corri da comunidade até o hospital. Falaram não precisava a ambulância ia buscar.
Está bem, mas a hora que chegasse já tinha morrido. Filho meu, eu cuido.
Nos dias que eu jogo bola, depois do jogo, nós vamos ao bar do Meleca.
O  Meleca, não tira o dedo do nariz, nunca vi cara mais nojento.
Mas lá no bar do Meleca, vai umas mulheres tomar cerveja, igual a nós.
Eu já tinha tomado algumas e alguém falou, paga uma para mim?
Quando olhei pra trás, vi uma branca aguada, mas bonita, toda cheia dos brilho, de ouro acho que tinha meio quilo.
Podia pagar para a moça, mais estou sem dinheiro.
Ai ela falou, então eu pago para você.
Aí chamou duas e foi para um reservado que nunca vai ninguém.
Antes de tomar a cerveja já foi enfiando a mão no meio de minhas pernas e eu falei.
–Ficou loca mulher?
Ela falou a única coisa que eu não posso escutar.
- Tu é viado?
Sou não galega, vem cá, e ali no chão mesmo chamei nos documentos, até fiz com ela o que se faz com viado.
Ela chorou um bocado, falei.
– Chama de ladrão, de maconheiro, eu não sou, mas, não me chame de viado, você quer guerra.
Ela sumiu do boteco do Meleca.
Agora voltou e está no meu pé.
Acho que gostou do tratamento.
Falaram que ela é mulher de traficante.
Se o cara descobre, este negão vira comida de urubu. Minha mulher ficou de barriga, a assistente social, quase bateu nela.
Veio falar comigo, eu falei.
– A senhora tem razão, mas a camisinha rasgou, ninguém tem culpa.
O moleque mais velho começou a trabalhar na feira. Ele traz fruta, e até algum dinheiro para a mãe dele.
A barriga atrapalha, eu fissurado, tava andando sozinho e a branca passou de carro.
Parou e falou.
- E aí desapareceu?
Te procurei por aí, você parou de ir la no bar?
-É a mulher está doente.
Está esperando nenê.
-Porra e eu com um tranqueira que não presta para nada, só sabe cheirar.
-Vamos tomar uma cerveja?
-Não dá estou duro.
Eu tenho um dinheirinho aqui, posso até emprestar para você.
-Vamos tomar esta cerveja, não aceito dinheiro de mulher.
Subi no carro dela e ela não parou no Meleca, foi direto para um motel.
-Ficou louca mulher quer morrer?
-Quero morrer de amor, faça tudo que fez comigo aquele dia.
-Não sou traíra, mas aquela mulher pelada, a minha com um barrigão, sem poder fazer nada.
Aí não agüentei e descarreguei nela todo meu tezão.
A partir daí virou uma catiça, ela me seguia e íamos de novo para o motel.
-Machuquei o pé, não pude trabalhar, ela me deu dinheiro, aceitei, a coisa ficou sem vergonha, eu não trabalhava mais.
A mulher ganhou o nenê, era a menina como queríamos.
Agora vou parar; que parar nada.
Saia da comunidade quando via o carro encostava. Um dia quando o carro parou, pensei tem coisa estranha.
Ela estava no banco de trás.
A cara dela já estava toda amarrotada e pelo que vi, a minha ia ficar também.
Fomos até um armazém enorme, o marido, acho que além de traficante, também era contrabandista.
Após entrarmos ele falou, com uma voz de bicha.
-Você não tem culpa, ela é uma mulher bonita amarraram-me em uma grade.
Fiquei vendo tudo acontecer.
Ela pedia perdão dizendo que eu era culpado, e tudo mais.
Ele pegou uma quadrada da cintura de um de seus capangas.
-Quando você ficou comigo eu disse que daria tudo e te dei.
Só que você não sabia que eu queria exclusividade. Tenho dó de você, eu te amo, mas acima de tudo existe o respeito.
Ela viu que nada adiantava, aí começou ofendê-lo. Ele ouviu pacientemente, depois apontou a arma para sua testa e apertou o gatilho.
Sua cabeça foi lançada para trás.
-Viu sócio, agora você vai pedir perdão, pelo amor de Deus, e que mais?
Falei para ele.
-Só me ponha de pé, ele colocou, ou melhor, seus capangas me colocaram.
Falei.
-Meu nome é Tião, sou muito considerado.
Se ela fosse minha mulher, eu matava os dois.
É seu direito irmão, estou em paz, pode cumprir sua obrigação.
Ao invés de atirar em mim, ele atirou nos dois capangas na cabeça.
-Tião, em outra situação seríamos amigos.
Se algum dia me vir, finge que não me conhece, para o teu bem.
Você tem quatro filhos para criar, some daqui. Daquele dia em diante, Tião parou de jogar bola, parou de beber, só não virou crente, mas tomava cuidado com tudo que fazia, pois sabia que qualquer hora poderia pagar a dívida.


Ésta é uma pequena história, fictícia lógico,
para alertar os menos avisados.
Se você é um garanhão,
Cuidado.
O dono do pasto pode estar por perto,
Quem gosta de usar chifres,
é o BODE.

OripêMachado.
Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 31/10/2011
Reeditado em 04/03/2012
Código do texto: T3309164
Classificação de conteúdo: seguro