"História Extraordinária" "O Poder da Fé"
A história que vou contar, não se refere a uma religião especifica, apenas fé, único motivo do ser humano ainda não estar em extinção. Conheci o Senhor Francisco, quando em uma de minhas aventuras de pesca fui atravessar um grande rio. A balsa tinha grandes motores de propulsão, mas não eram suficientes para vencer a correnteza. Por isto, ela trafegava entre dois cabos de aço, ligados de margem a margem. Não sei se falta de manutenção, ou desgaste natural, mas o fato e que aconteceu, um dos cabos veio a se partir, deixando o barco à deriva. Mesmo com toda a experiência do piloto, fomos rio abaixo, só parando em uma ilhota com enorme banco de areia no meio do rio. Como sou um aventureiro precavido, tenho telefone de satélite, GPS, e o rádio do barco, seria questão de horas para sermos resgatados. Só que naquele local, acontece p que em comunicação é muito comum (zona neutra) (buraco negro) e outros nomes que não me lembro. Resumindo, estava fora da rota dos satélites, e as montanhas próximas formavam uma bacia impedindo a comunicação. Também não era o fim tínhamos víveres, e todo conforto de nossos sacos de dormir. Era só aguardar, porém a balsa não tinha uso constante, então dificilmente sentiriam sua falta.Todos presumiam que estávamos no acampamento, pescando saboreando deliciosos peixes, como surubis, jaús, caxaras e outros mais, o que não era de todo verdade. Entre os sobreviventes estavam, O Senhor Francisco operador da balsa, Raul meu sócio na loja, e o Sr. J.C., conhecido novo, que se convidou para a pescaria. Embora não comprometesse em nada, e até tentava ajudar no máximo de sua capacidade que era (0). À noite os cracajás, enormes tartarugas vinham para a areia, por seus ovos.Faziam enormes buracos na areia e depositam ali, cobriam depois iam embora. Eu não quis ver e o Senhor Jose ficou queimando lata (fazendo a comida). Por não ter o que fazer, fiquei observando seu trabalho (era um ensopado para nós). - Senhor Jose, o que tem nesta sacolinha, que o Senhor não larga para nada, é dinheiro? Num sorriso gostoso de matuto, ele falou. - Muito melhor, um tesouro. Achei melhor ficar quieto, mas eu já o provocara, agora teria que ouvir e disse mais uma vez:- é droga? - Credo Doutor, Nunca lidei com isto disconjuro. Abriu a sacolinha para eu ver, dentro tinha uma bíblia, com a maioria das páginas gastas de tanto manusear. Desculpe o senhor e crente, digo evangélico. Sou não, mas crente fervoroso sou. Mas esta bíblia é evangélica tem até carimbo.
A História.
Eu era um rapaz nervoso, fiz algumas besteiras, bebida, briga, e cheguei a usar uma faca. Ah, o senhor matou? Não sei por que eu fugi e me embrenhei no mato. Como já conhecia um pouco, virei mateiro, e seringueiro. Ficava alongado até três meses, depois trazia as bolas de borracha num porto, que não existe mais, vendia trocava por comida, pólvora, fumo e querosene. Um dia, cheguei ao final de semana e não consegui vender, como não tinha o que fazer comecei a zanzar a toa. Vi uma casinha azul, onde algumas pessoas entravam, fui convidado também.Todos conversavam vários assuntos, eu só prestava atenção. Aí vieram umas crianças e começaram a distribuir uns livros pretos para cada um dos presentes. Eu ia falar que não sabia ler, mas fiquei com vergonha. De repente entrou um homem de uns trinta anos, bonito que parecia um doutor.
Começou a falar do começo do mundo, explicando tudinho. Depois do sofrimento de Cristo, dos apóstolos, eu bebia cada palavra. Aquilo entrava na minha alma. Quando ele terminou de falar eu fiquei ali, esqueci que tinha deixado a borracha largada no porto, esqueci que tinha fome, esqueci de tudo. Este homem se não for santo parece muito. Todos haviam saído e deixaram os livros sobre o banco. Ele olhava para mim como amigo, um olhar manso, parece que nunca viu maldade. Aí falou:- Muito obrigado pela visita, aguardo o senhor na próxima semana. Falei para ele gostaria muito mesmo, mas eu venho por aqui uma ou duas vezes ao ano. - Então leve a bíblia com você, parece que gostou poderá saber de tudo a qualquer hora. Agradeci e saí dali, pela segunda vez não tive coragem de dizer que não sabia ler. Mas a noite, eu abria o livro, não entendia nada, mas pensando no que o homem havia falado e me sentia muito bem. O tempo passou e ele passou a fazer parte da minha vida. Após uma manhã inteira de chuva, já era de tardezinha, próximo a algumas arvores enormes, encontrei uma onça. No mato a espingarda faz parte de sua vida, como o cigarro ou o café. Imediatamente, apontei a arma para a bicha, que parecia uma novilha de grande. Mesmo com um tiro, seria difícil, matar tão grande felino. Num impulso apertei o gatilho, ouvi o estalido do cão, mas a munição molhada falhou. Eu já era um homem morto, mas sem querer, enfiei a mão nesta sacolinha, onde estava minha bíblia. A onça estava tão perto, que se levasse a pata para frente me apanharia. Até agora me arrepia, peguei a bíblia, e levei a frente de meu rosto. Naquele emaranhado de letras, que não conseguia identificar e nem interpretar falei honestamente. Senhor vou partir desta vida sem ter podido professar a tua fé, mas eu tenho fé. Socorra-me meu pai, tu és minha última e única esperança. A minha cabeça ficou confusa, uma fumaça branca parecendo uma nuvem nos envolveu. Nos olhos da onça que antes parecia escorrer sangue de brava, ficaram verdes e dóceis. A onça balançava o rabo lentamente, eu embora me sentisse leve não conseguia me mexer. Apareceu este homem vestido de branco, mas tão branco que era alvo. Seu rosto lembrava muito o homem que havia me dado a bíblia. Só que ele tinha barba e cabelos compridos, não falou comigo, mas olhando para ele foi como se assistisse um filme, de tudo que o homem da igreja havia falado. Sua expressão, seu sorriso, era suave e tão gostoso, que se desse alguma ordem, eu cumpriria sem pestanejar. Depois praticamente me disse, mas sem palavras fique em paz meu filho. Minhas forças faltaram e desfaleci, quando acordei não havia mais nada, porém uma necessidade me empurrou para longe dali. Quanto tempo andei não sei, mas só que me vi novamente no porto juntamente com o pessoal trabalhando na descarga de um barco. Segundo disseram, eu apareci sem documentos, sem nada, não sabia nem de onde vinha. Alguém perguntou se meu nome era Francisco, eu falei acho que é, e ficou. Eu morava junto com os outros carregadores de carga. Um dia alguém falou isto estava com você, e me deu a sacolinha. Tinha uma escola noturna na cidadezinha, só que ia fechar por falta de alunos. Eu me matriculei, e praticamente arrastei uns poucos companheiros comigo. À medida que fui aprendendo, pude enfim ler meu grande tesouro. Mas como minha leitura era ruim, eu não entendia quase nada, fui a aquela igrejinha. Obtive de todos, tratamento como um da família. Freqüentei por três anos a pequena igreja. A vila foi desaparecendo, e a igreja mudou para a cidade grande. Eu continuei aqui, consegui tirar a carta de Arrais amador, e depois Mestre Amador. Hoje trabalho na balsa. E com muito prazer te digo, embora ninguém acredite. Eu tenho motivos suficientes para dizer que este é meu tesouro. Noutro dia fomos socorridos e na cidadezinha perguntei pelo senhor Francisco. O da balsa, aquele que vê coisas? Só que no pouco que conheci Seu Francisco, nunca usou nada de álcool, ou qualquer droga, até o cigarro ele largou, após o ocorrido.
O que você pensa é importante sim, mas eu... Eu acredito que aquele homem, sem saber ler, teve tanta fé, fez uma tão forte oração que foi atendido pelo próprio Senhor Jesus. O Senhor Francisco já é falecido, e mesmo com as criticas de louco e visionário, fundou várias escolas para deficientes e em todas havia aula de religião.
Esta história me foi contada por uma pessoa muito séria. Se não for verdadeira, pelo menos não é mal intencionada. E gostaria de ter um pouquinho que fosse da fé do Senhor Francisco.
OripêMachado.