O CASO JOSETTE
O caso Josette
Vando
Bateram à porta do ninho de amor do norte - americano Vito e da holandesa, naturalizada brasileira, Josette. Esta foi atender, dando de cara com dois senhores de terno, gravata e chapéu, os quais se identificaram como policiais civis do Rio de Janeiro.
Perguntaram se Henry Vito estava. A jovem ficou pasmada, respondeu que sim, os policiais entraram e encontraram Vito sentado em uma cadeira. Deram ordem de prisão e o algemaram. Josette quando viu aquela cena, desmaiou. Os meganhas aguardaram o seu restabelecimento, e quando esta voltou a si, passaram a ler a lista de delitos cometidos nos Estados Unidos por Vito. A ficha policial de Henry era extensa, pois tinha cometido diversos crimes em seu país. Foi preso e condenado por roubo de automóvel, porte ilegal de armas e drogas, por arrombamento e furto. Estava em liberdade condicional nos EUA. O casal foi detido e transportado para Capital Federal. Josette chorou durante toda viagem.
Conheci Josette Renée Van Harrevelt, morávamos no mesmo bairro, Copacabana, no Rio de Janeiro. Ela nasceu na Holanda e veio morar no Brasil ainda adolescente junto com seus pais, no ano de 1955. Eles vieram trabalhar numa empresa multinacional. Ela era uma adolescente esbelta, cabelos louros, olhos azuis e de tamanho físico acima da média das brasileiras. Foi educada nos melhores colégios da Holanda e no Brasil. Sua beleza chamava atenção das pessoas e dos jovens do bairro.
Dinâmica, aos 16 anos, foi em busca de sua independência financeira. Conseguiu emprego na PANAIR. Na fase de treinamento para exercer a função de aeromoça, Renée se destacava das demais, pela sua meiguice e inteligência, sendo aprovada com a melhor média. Viajou o Brasil inteiro, nos famosos aviões Douglas DC 3 da companhia aérea. Os passageiros a admiravam, pois era bonita e educada.
Curiosamente, em um vôo proveniente de Manaus, próximo da cidade de Fortaleza, no Estado do Ceará, deu uma pane no motor do lado direito do avião, Renée foi chamada pelo comandante João Eduardo, e orientada a acalmar os passageiros. De imediato e com toda calma, dirigiu-se às pessoas, solicitando que fossem para o lado esquerdo para estabilizar a aeronave. Muitos passageiros entraram em estado de choque, mas sua calma transmitia confiança, e com toda dificuldade e a perícia do comandante o pouso foi tranqüilo. Quando os passageiros se deram conta estavam salvos, bateram palmas, abraçavam e beijavam Josette, pois sua calma foi uma das causas que evitou tumultuo dentro do avião.
No inicio de novembro de 1960, no aeroporto Santos Dumont, descia sozinho um americano, alto, magro, de olhos vivos e jeito caboclo, pegou um táxi e foi direto para um hotel em Copacabana. Hospedou-se em um dos melhores hotéis. De manhã ia à praia e só voltava ao anoitecer. O atendente do hotel, José Francisco, que era nordestino, ficava intrigado com o hóspede, pois era uma pessoa misteriosa. E tentava descobrir qual era sua profissão. Recebia gorjeta em dólares do gringo. E quando era chamado a levar bebida e comida no seu apartamento via sempre jornais, revistas norte-americanas e brasileiras, abertas nas páginas policiais. Pensava consigo, será um ladrão ou homossexual disfarçado? Pois, o via andando com Antonio um velho conhecido do bairro, amigo de Renée, e que não gostava de trabalhar. O hóspede também ficava desconfiado quando passava carro de polícia, apesar de em certo momento ser uma pessoa alegre e comunicativa.
Falando vários idiomas, Renée já estava sendo treinada para servir em vôos internacionais. Alugou um apartamento na Vieira Souto em Copacabana, foi morar sozinha. Mas, numa tarde quente do final de novembro de 1960, seu destino começou a mudar. Vinda de um vôo de São Paulo, desceu no aeroporto Santos Dumont. Era o dia de sua folga. E Junta com a colega Meyre, que também era aeromoça, pegaram um táxi e antes de irem ao apartamento foram até uma sorveteria tomar sorvete. Quando estavam deliciando o gelado apareceu Antonio seu amigo de infância em companhia de um americano.
-0lá, Renée, como vai? Cumprimentou Antonio - Ela respondeu – vou bem.
-Renée, aqui é um amigo, um americano, não fala português, mas como você fala inglês não vai ser problema.
-Hello, how are you, my name is Henry Vito – disse ele.
-I am fine! – my name is Renée - Respondeu ela.
Que homem lindo pensou consigo, “vou conquistar de qualquer jeito” disse. Ficou caidinha por ele desde o primeiro instante. Foi amor à primeira vista.
Em poucos dias já tinha conquistado Vito e de mãos dadas passeavam com freqüência em Copacabana. Ficou tão apaixonada que deixou a brilhante carreira de aeromoça. Apesar dos conselhos ao contrário que recebia dos pais e de sua amiga e colega Meyre. Todos os colegas do bairro quando soube de sua atitude foram unânimes em afirmar que Renée estava fazendo uma loucura, já que conhecia há pouco tempo o americano, podia ser um ladrão um estelionatário, alguns pensavam.
Ela estava muito feliz. Henry era falante, gastador, e rico segundo dizia. Passado um mês, disse a Josette que iria até o Maranhão, comprar terras, construir uma bela casa, casar, ter filhos, plantar cana e criar gado. Encantada com sua aparência, espontaneidade, com a aparente finura e com as promessas, Josette concordou em viajar com ele para São Luiz do Maranhão.
Hospedaram-se em um hotel no centro de São Luiz, onde passavam horas se amando e fazendo juras de amor. Os propósitos matrimonias de Henry pareciam sinceros. Certo dia ele entrou no apartamento, que ocupava no Hotel, com pequeno estojo na mão.
Entregou-o à moça e pediu que ela abrisse. Ela obedeceu e, dentro, viu um par de alianças. Abraçou-o comovida, pensando ser ele o melhor homem do mundo. E marcaram o casamento para o dia 16 de abril de 1961, data em que Josette completaria 21 anos. A jovem continuava a sonhar com a felicidade, que parecia tão próxima. Quando estava sozinha, ficava na janela do apartamento do hotel pensando em ter filhos junto com o homem que tanto amava, e, quem sabe, um dia ir morar dos Estados Unidos da América.
Li nos jornais a notícia da prisão de Renée e seu namorado em São Luiz e a hora que desembarcaria no Rio. E fui até o aeroporto Santos Dumont, por curiosidade, ver minha amiga chegar. Quando desembarcaram visualizei Josette abatida, Mas, esguia e bonita. Quando a aeronave estava sobrevoando a Capital Federal, Josette ficou pensativa, segundo disse um policial que a escoltava aos jornalistas. Depois confidenciou ao policial, que naquele momento deveria estar servindo os passageiros e orientando-os para o pouso. Mas, ao contrário, se encontrava presa. Tudo por fruto de um caso amoroso, desabafou. No saguão do aeroporto foram recebidos por um batalhão de repórteres e fotógrafos, uma vez que o caso teve repercussão nacional. Posteriormente, foram levados para uma delegacia, onde prestaram depoimentos, sendo que Josette foi liberada, pois não existiam indícios de participação nos crimes do namorado. Vito ficou preso, e foi dado início o processo de expulsão do Brasil.
Contudo, a ex-aeromoça continuou amando Henry. Nos dias de visita, ia à carceragem do Departamento Federal de Segurança Pública, no Rio de Janeiro, onde Henry estava preso; aguardando o fim do processo de expulsão, e passava toda a tarde fazendo amor com Vitor, tentando ter um filho para evitar sua expulsão do Brasil. Inclusive fez pedido aos presidentes do Brasil e dos Estados Unidos, implorando a libertação do noivo. Também escreveu carta à primeira dama do Brasil, pedindo que seu coração de esposa e mãe interferisse para que Vito ficasse no país. Mas não conseguiu obter resposta. O processo de expulsão de Vito correu rápido. E na véspera do embarque de Henry de volta aos Estados Unidos, Josette o visitou no presídio. Dentro da bolsa que carregava tinha um corrente de ouro de 21 kilates, e uma certa quantia em dólares. Era a última vez que via seu grande amor, e praticaram o último ato sexual. Foi ao banheiro do cubículo se higienizar e vestir a roupa, na volta deu um longo abraço e muitos beijos em Vitor, se despediu e foi embora.
Rapidamente, entrou no seu automóvel foi para o apartamento deitou-se no sofá e começou a chorar, pensando nos dias felizes que tinha passado com Vitor e agora o tinha perdido. Abriu a bolsa para tirar um lenço a fim de enxugar as lágrimas, ficou surpresa, descobriu que tinha desaparecido a corrente de ouro e os dólares.