"Saga de Gaucho"

Desde que era rapazito.

Eu vivia na estância.

Já andava arrumadinho.

Mas sem muita extravagância.

Nas festas de fim de ano.

Rasgava uma acordeona.

E fazia um bailado.

Para todo lugar que ia.

A moçada só dizia.

Eita! Gauchinho arrumado.

Aí conheci uma china.

Uma beleza de menina.

Na Garupa do baio.

Com esta mulher faceira.

Galopiano, a noite inteira.

O baio ficou molhado.

Como o amor só crescia.

Pra não fazer estripulia.

Pois, eu sou um homem honrado.

Nos casamos na igreja.

Era de causar inveja.

Um casal tão arrumado.

E, foi lá no pé de serra.

Numa bonita casinha.

Toda rodeada de flor.

Acredite tanto amor.

Em outro lugar não tinha.

Mas o filho do patrão.

Rapaz culto, da cidade.

Se engraçou, com a mulher.

E falou com liberdade.

Mas ela ficou quieta.

Para não estragar o casamento.

E para mim, não deu noticias.

Deste acontecimento.

Ele, por sua vez.

Já, que calada ficou.

Achou que ela aceitava.

As coisas que ele falou.

Eu trabalhava e não via.

O que estava acontecendo.

Até que por língua dos outros.

De tudo fiquei sabendo.

Minha alma ficou preta.

Comecei a ruminar.

Agora, só banho de sangue.

Para minha honra lavar.

De uma viagem para ela.

Eu dei, o conhecimento.

Ah! Ela respondeu, pode ir.

A saudade, eu agüento.

Olhei-a, mais uma vez.

Mas, não dava para mudar.

Não provoquei, foram eles.

Era impossível voltar.

Com duas horas de viagem.

Puxei as rédeas do baio.

Vamos voltar companheiro.

Agora temos trabalho.

Do lado de minha casa.

Tinha um cavalo amarrado.

Pela porta da cozinha.

Eu vi os dois abraçados.

Mas, antes de atirar.

Veio um carro em disparada.

Dele desceu, uma moça.

Era sua namorada.

Não conversou, despejou.

Os dois caíram agarrados.

Chorando desesperada, virou a arma para o peito.

Eu pulei para cima dela, menina, não é desse jeito.

Se eu demoro, mais um pouco, todo mal já tinha feito.

Que será da minha vida, agora preciso morrer.

Você estava indo embora, então me leve com você.

Eu até já te conheço, quando estava na cidade.

Todas as moças da praça lembram de ti com saudade.

Agora vamos tentar, consertar esta besteira.

Vamos arriar o pala, e atravessar a fronteira.

Eu não tenho o que perder.

Minha vida está enrolada.

Eu já era sua amante.

Não a sua namorada.

Ele deu muito dinheiro.

Queria que eu tirasse.

Eu disse não vou fazer.

Abortar coisa nenhuma.

Eu tenho religião.

Deixa nascer que eu crio.

É filho de coração

Estamos juntos há alguns anos.

O nosso filho cresceu.

Agora nós, nos amamos.

O passado já morreu.

Hoje, aqui no Paraguai.

Eu vou contar para vocês.

Nós já temos três crianças.

E ela grávida outra vez.

OripeMachado.

Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 27/10/2011
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