"Manduca e o Cavaquinho".

Desde moleque, Manduca, sempre gostou de música. Ficava na padaria do Sr. Alcides, por horas, só ouvindo, dos “Seresteiros da Madrugada”, todos os sambas da época, até outros mais antigos. Acho, que tinha onze para doze anos, quando ganhou, comprou, ou roubou um cavaquinho. Daí para frente era o cartão de visita da vila, chegou até se apresentar em famoso programa da época. Manduca era um rapaz feio, seu rosto é aquele que a gente pergunta, Tijolada? Caiu do trem? Estas coisas. Mas, quando o safado pinicava as cordas, camarada de ressaca, mulher que apanhou do marido, casal brigado, todos abriam aquele sorriso. O Manduca, vivia de aplausos e elogios, mal beliscava. Só cantava e tocava parecia um sabiá, canarinho, ou outra ave canora. Todos foram nomes dados a ele, mas só um pegou, Manduca. Quando era molequinho, em uma discussão, perto de bastante gente, Jose Rafael ou J. Rafael saiu com esta. Nervoso com o amiguinho, ao invés do clássico; Vê, se te manca, disse: Vê, se te manduca.Todos copiaram e até ele achou engraçado, nunca mais saiu, virou nome. A simpatia de Manduca era incontestável. Mas tudo isto sem maiores. Amigo de todos, mas e namoradas? Nada, ninguém queria saber dele. Ah! Apareceu a Clélia, mulata Raimunda sabe? Aquela que... Bom, aquilo foi paixão das grandes. Chegou a ponto de Manduca alugar um puxado e mudar para lá com a ninfa. Manduca era cantor compositor, além de fazer com as cordas, coisa que nem maestro fazia. Suas músicas eram cantatas de boca em boca. Só que nunca apareceu nenhum infeliz para gravar, um bolachão, nem um disco simples. Acho que gente boa, e sem reconhecimento, está cheio por ai oh. Mas uma hora ele acerta. Não... Acertaram ele. Um sem vergonha, mal caráter, da pesada, toda vez que me lembro, disso, dá uma coisa, que dá até vontade de chorar. O Manduca ia para casa, com uma sacolinha de mercado, com alguma comida. Este safado “muxoloco”, terror dos feirantes, padarias, e mini mercados, com inveja do artista, falou. - Vou quebrar esta merda. Você podia fazer qualquer coisa, até xingar a véia, mas não aquilo, o cavaco não. A briga até que foi interessante, os dois bateram bem, só que a covardia do “muxoloco”, transpirou. Levando desvantagem ele falou. - Sinto irmão, segura aí oh. E despejou. Manduca tomou todos no peito. A rapaziada contrariada com a covardia e por gostarem do rapaz lincharam “muxoloco”. Morreu, mas nosso herói também. No caminhão de aluguel, Manduca, num caixão de segunda linha, a companheira Clélia toda chorosa. E o silêncio, ninguém sorria, acabou a festa. Manduca tu faz falta. O povo não te esqueceu. Tua Mulé ganho nenê, o filho é teu, a mesma cara, carinha bonita do pai. Desculpa mas eu tinha que falar. Esta história se repete sempre, na periferia. Falta oportunidade para o artista pobre subir e a malandragem acaba ceifando uma vida, que tinha tudo para ser feliz.

Oripemachado.

Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 27/10/2011
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