SUSTO

Eram 10:00 horas de uma segunda-feira, pouco antes da abertura do expediente externo de uma agência bancária na cidade de Florianópolis-SC.

Seu Agenor era o primeiro da fila. Parecia impaciente e já havia solicitado ao vigilante, mais de uma vez, para entrar na agência antes da hora, alegando que o seu assunto era muito urgente.

Logo que a agência foi aberta, seu Agenor, em passos ligeiros, adentrou esbaforido, dirigindo-se para uma das mesas do setor de atendimento.

- Em que posso servi-lo, seu Agenor ? – perguntou o funcionário do atendimento.

- Olhe, eu comprei um saco de feijão do Onório no sábado de manhã lá na Feira Livre e quando cheguei no meu mini-mercado abri o saco para separar o feijão em pacotes menores, e vi que o feijão tava todo “bichado”.

Seu Onório também era cliente da agência e comercializava produtos provenientes da zona rural, revendendo-os na principal Feira Livre da capital.

- Minha mulher também ficou furiosa. Ela me disse para eu me vingar desse vigarista. Uma coisa dessas não se faz com pessoas de bem. Ela me aconselhou vir até a agência antes dela abrir e dar um susto. – seu Agenor ia falando e o suor já começava a escorrer de sua testa.

Ao juntar um objeto que havia caído de suas mãos, o funcionário percebeu que por debaixo da camisa do cliente, que estava entreaberta em virtude da proeminência da sua barriga, tinha um objeto escuro, volumoso. O funcionário custou a acreditar. Seu Agenor estava armado e havia passado pela porta giratória sem ser detectado.

- Seu Agenor, fique calmo que a gente vai resolver o seu caso sem que ninguém precise usar de violência.

O funcionário deu uma desculpa qualquer e se enveredou para o interior da agência. Tomando um copo d’água pensou : “Seu Agenor tá pensando que o seu Onório virá descontar o cheque no caixa e quando ele chegar vai sacar do seu revólver e impedi-lo de efetuar o saque. O caso é muito sério e eu vou comunicar ao gerente”.

- Bom dia seu Agenor ! Que prazer revê-lo ! Hoje tá um belo dia, não ? O Gabriel está se sentindo meio tonto e foi lá dentro tomar um copo d’água. Ele me contou o que está acontecendo e eu vim aqui para ajudá-lo. - disse o gerente, tentando manter um sorriso.

- Olhe! Seu gerente! O senhor vai me desculpar mas essa coisa tá demorando demais. Eu só quero assustar.

- Seu Agenor... – disse o gerente – Pense bem ! Não vá cometer um desatino. Veja! A agência já está cheia de clientes e eu não vou permitir tumulto aqui. Posso resolver da seguinte maneira : vou dar um comando para impedir o pagamento do cheque que o senhor emitiu e o seu Onório não vai poder sacar nem compensar o seu cheque. Depois com calma, de cabeça fria, o senhor desfaz o negócio. Tá bem assim ?

- Pois era isso que eu queria desde o começo. Eu quero “assustar” o cheque. – falou Agenor.

O gerente providenciou o formulário de “Sustação de Pagamento de Cheque” com a assinatura do seu Agenor. Disse-lhe que poderia ficar descansado que o cheque não seria pago e despedindo-se do cliente deu-lhe um abraço. Percebeu que o que ele trazia na cintura não era um revólver e sim uma “capanga” (=bolsa pequena) de cor preta, amarrada em torno da cintura.

- Gabriel ! O homem queria somente sustar o cheque. – disse o gerente, dirigindo-se para o interior da agência onde se encontrava o funcionário do atendimento.

Ainda pálido, Gabriel respondeu :

- É, mas quem acabou levando um baita “SUSTO” fui eu !

MURILO
Enviado por MURILO em 24/10/2011
Reeditado em 25/10/2011
Código do texto: T3296079
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