O MENINO AMIGO DAS ONÇAS E OS CAÇADORES
Com apenas oito anos de idade o garoto surpreendeu os pais ao trazer para casa um filhotinho de onça com a patinha traseira quebrada.
-Dezinho adonde cocê rumô esse animar minino vai sortá ere nu mato, ocê num sabe qui isso nun se fais quantas veis cu seu pai mais ieu já ti contô isso fiu?
-Mãe ma ere ta Ca perna firida, foi à mãe dere qui pidiu mode nois cuidá dere!
–oia minino já falei mode ocê larga mão e num dizê bestaje!
-Num é bestaje-, ieu cuverso cas onças e ezas me intende, ieu itendo eza tumem mãe!
–Ta veno frimino já num falei quesse minino num bate da cachola!
-Que isso Brabina num tem pirigu Desim tem cheru Du matu é amigo dus bicho!
–Ié ma o fiu de coroné Jacó tinha chero de mato tumem e deu nuquideu jacaré cumeu-, Desim tem qui larga mão de fica falanu cus bicho!
- Quá muié dexe Desim aprendê a cunversa Cus bichos- iisso vai cê ua coisa das mais mió prele!
-Os pais um casal de caipiras defensores da natureza que vivia a margem do Velho Chico. Ficaram surpresos com a atitude do filho ao se preocupar com o animalzinho indefeso, imaginaram ter ele, se perdido da mãe, nas constantes caçadas que ocorriam.
Naquelas remotas épocas a caça era liberada e praticado em alta escala como esporte. Mal sabia os pais que seu garoto tinha de fato grande intimidade como os animais em especial com as onças.
-Cuidaram do filhote curaram sua pata, ele, aliás, ela se tornou o fiel guarda costas de Desinho o protegendo pelas matas donde seus pais obtinham recursos complementando as pequenas lavouras que cultivavam para o sustento da família.
Três anos mais tarde a pintada como era chamada já era uma onça adulta e boa caçadora sustentando a família com farta variedade de caça. Mas para tristeza de Desimnho um grupo de caçadores se instalou bem próximo da cabana de seus pais tirando seu sossego.
Abriram uma clareira na mata e montou lá sua barraca. Logo procuraram fazer contato com a família o que não agradou em nada o garoto, agora já um adolescente de onze anos que vivia misturado com as pintadas conversando com elas com toda intimidade.
Os caçadores aguardavam a chegada de alguns colegas conduzindo os cães de caça, a intenção era praticar uma mega caçada que lhes renderia uma boa safra de peles. Tentou comprar a pintada de Desinho ele recusou. Eles argumentaram que seria melhor para ele, pois assim que a matilha chegasse sua pintada seria capturada. Seria difícil a eles conter a fúria dos cães diante de seu animal.
Assim que os cães chegaram à pintada não saiu mais da cabana por recomendação de Desinho, e os cães famintos devoram restos de frutas e tudo mais que encontravam pela frente, mas no dia seguinte toda a matilha estava morta. Intrigados os caçadores buscavam uma resposta para a tragédia ocorrida, mas não encontravam explicação. Teriam que partir sem sucesso, foi ai que Desinho ofereceu seus préstimos, e eles aceitaram. Seriam levados no dia seguinte, pelo garoto na toca dos animais onde segundo ele poderiam se fartar da caça.
Era noite de luar quando todos se preparavam para dormir. Sem que esperassem Inúmeros olhos iguais faróis adentraram pela porta da barraca:
- Segura ai qui tô ino nu mato mode buscá mais! Mode ieu caçá num gasto cachorro não! Inquanto oceis tira o coro dês terno ieu busco o ôto-, já cus cachorro doceis cumeu a erva qui ieu isparramei vô da oceis a recompensa coceis merece!
Não sobrou si quer um caçador para contar o caso, foram todos devorados pelas feras... Até nesta data de hoje ainda se ouve gritos de caçadores nas barrancas do Velho Chico, muitos afirmam que são os fantasmas dos caçadores de onça que o Desinho ajudou.