Cinco crendices e superstições mineiras ( parte 4 )
Vou postando as que conheço, depois sairei pesquisando.
1- Segundo os antigos nunca se deve tomar banho ou “namorar” após as refeições, isso pode dar congestão e matar principalmente homens, mulher é mais custosa pra morrer disso.
(Um conhecido de meu avô, personagem de meu primeiro texto aqui no Recanto das Letras, um senhor chamado Nicolau, comeu canjica e foi pra cama da mulher do Seu Ludgero... Morreu disso ou daquilo...)
2-Na roça quando morria alguém, logo que saía o enterro era preciso varrer a casa. Se não morria mais gente naquela família no mesmo ano.
(Lembro-me que me levaram ao velório de minha madrinha Aguinertina, uma fazendeira que foi velada em casa, eu tinha uns 10 anos e achei tão estranho o que eu vi: na cozinha uma dezena de mulheres cozinhavam em enormes panelas, parecia que era festa.Havia pessoas com bandejas de café, pão de queijo, biscoitos e doces sendo servidos. Depois na hora de sair me lembro de três mulheres de preto varrendo a casa. O caixão era feito lá mesmo, todo coberto de um tecido roxo, esse velório ficou marcado na minha lembrança. Nunca usei uma peça de roupa dessa cor.)
3-Brotoeja é uma erupção cutânea que afeta bebes e crianças pequenas. Na roça se curava assim: A mãe devia chamar uma Maria que tivesse os cabelos compridos, despia-se o neném e a Maria passava os cabelos pelo corpinho do mesmo, por três vezes seguidas do rosto até os pezinhos. No outro dia amanhecia curado.
(Minha mãe se valeu de mim para curar as brotoejas de todos os meus irmãos, porque sempre tive os cabelos longos, mas o que me deixava contrariada é quando ela me emprestava para as comadres ou vizinhas fazerem a simpatia com seus respectivos filhinhos. Na volta pra casa me lembro que pegava um bola de sabão (na roça era sabão preto feito em casa sem soda cáustica, com um líquido à base de cinza chamado “diquada”colocava-se folhas de patchouli para ficar cheiroso) eu ia à bica d’água e lavava os cabelos e pensava:
—Será pussive qui a mãe, pois esse nome de Maria ni mim só pra eu ficá sarano a bertueja desses neném mijão das cumadi dela, credo!
4- Ao antigos diziam que se uma pessoa do sexo feminino em fase de crescimento se sentasse num cocho de colocar sal para o gado, esta ficaria com a região glútea avantajada.
(Acho que é por isso que às vezes na roça ouvia-se os compadres falando: A cumadi Fulana, sentou no cocho de sal umas trêiz vêiz! Benzadeus! )
5-Uma das crendices mais conhecidas é a da manga. Em algumas regiões é manga com leite que faz mal, em outras é manga com banana que mata.
(Cresci com mãe e avó vigiando a mim e aos irmãos para não fazer a misturada de manga com banana. Um dia eu puxava meu irmão caçula numa carrocinha de madeira e o deixei cair no chã, ele bebeu o fôlego, engasgou com o choro quase morreu. Levei um corretivo e me puseram de castigo. Eu me senti injustiçada e falei:
—Ocêis vai vê... Vô morrê e cêis vai ficá cum pesar...
Dito isso, peguei duas bananas prata e comi, fui para o fundo do quintal e subi na mangueira mais alta, estava decidida a “morrer” então apanhei duas mangas maduras e chupei. Depois me acomodei num galho para esperar, eu tinha oito anos e nem me lembro se tinha noção do que era morte, mas fiquei lá pelejando pra morrer. Passou mais de uma hora, eu ainda vivia. A turma brincando lá embaixo me chamava:
—Mariinha larga de sê boba sô! Dêxa pá morrê otro dia... desce daí bamu brincá de pique...
Eu desci e fui brincar.
Ê tempim bão!
Queridos amigos leitores,
vou me ausentar do Recanto das Letras por alguns dias por motivo de viagem. Não vou fechar a porta de minha casa/escrivaninha, estejam a vontade para vir até aqui e deixar um comentário, na mesa tem doce de leite com rapadura, embrulhado na palhinha de milho, sirvam-se. Um abraço carinhoso a todos e até a volta. Sentirei saudades.