105 – NÃO ACREDITO EM DEUS...

Tenho um amigo de pescarias e pra variar ele é proprietário de uma loja de caça e pesca, gosta muito é de contestar a tudo e a todos, sempre alardeia em altos brados que não acredita em Deus, que não existe Deus, que Deus é criação do homem face ao temor do desconhecido, se Deus existisse na certa já teria entrado em contato com ele, que tudo o que existe é obra da natureza e do acaso, e assim discorre sobre este tema repetindo sempre as mesmas e decoradas ladainhas.

Certo dia ao passar em frente a sua loja e ao me ver ele gritou que precisava falar comigo, que tinha encontrado com Deus, como não encontrei um espaço para estacionar a minha caminhonete não pude alongar a conversa, então ele disse que me faria uma visita ao anoitecer para contar um causo de arrepiar os cabelos.

Dito e feito, anoitecido, ele adentrou à minha casa, nos ajeitamos no alpendre da casa, sentados em folgados sofás de vime, ele se pos a falar, afobado, quase não me deixando prosar:

- Meu amigo! Vou te contar como que eu encontrei com Deus, antes de ir pescar fui visitar a minha avó que já está com noventa e três anos, ela está imobilizada em uma cama, mas muito lúcida e conversadeira.

Pensei comigo, deve ser genético este dom de falar sem parar.

– Ao me despedir ela disse; que Deus te acompanhe!

Retruquei, deixa de bobeira Vó! Deus não existe, eu nunca vi Deus!

– Meu querido neto, tudo tem seu dia, você ainda haverá de encontrar Deus antes que a terra coma este seu corpo e toda esta sua ignorância!

No trecho onde meu amigo pesca o Rio Grande é represado e lá no meio do lago estava ele pescando quando...

- Meu amigo! Pro lado onde o Rio Grande desemboca se formaram inúmeras nuvens negras que o vento caprichosamente foi ajuntando e empurrando rio acima, uma calmaria esquisita, um silêncio amedrontador, aviso de perigo iminente, fortes arrepios corpo afora, medo eriçando o pelo, pensamento ruim na cabeça, mau agouro, maus pressentimentos estremecendo a minha valentia, naquele trecho do lago em face aos fortes ventos que assolam formam imensas ondas e e nestas condições muitos barcos já naufragaram, um zunido fino, dilacerante, relâmpagos a tudo estrondar e a iluminar ondas imensas se levantando e ameaçando meu barco emborcar, a tempestade abalava rio acima, e eu teria que ir rio abaixo, em algum trecho teríamos de nos encontrar.

O vento urrava que urrava, estremecendo e contorcendo no esmigalhar daquelas frondosas árvores a rodopiar, acelerando ao máximo o motor meu barco ia saltando sobre ondas indomáveis que insistiam em barrar o meu desembarque, num finalmente o marete se fez favorável sem titubear arremessei o barco contra as pedras do barranco margeador, mal tive tempo de amarrar o barco em um tronco qualquer, pois o céu estava desabando aos estrondos nos incontáveis raios que esfumegavam as árvores derribando galhos em sua caminhada insana rumo ao solo, na corrida divisei um rancho abandonado e lá dentro me enfurnei e aquietei. A terra tremia, nunca vi nada igual, o vendaval simplesmente arrancou o telhado do rancho e pra longe dali o despejou.

Tremi, temi pela minha vida, inexplicavelmente me vi ajoelhado e rezando!

Pasme! Eu nunca rezei, nem sei rezar, estava conversando com Deus implorando proteção, naquele momento tão crítico, tão desfavorável, tão agonizante, sozinho diante da morte quase certa, me lembrei pela primeira vez na minha vida da proteção divina.

Você não vai acreditar que naquele momento tão desesperador, tudo se acalmou e tudo transmudou aqui dentro de mim, só aqui dentro de mim, insensível fiquei aos escombros da tempestade e foi aí então que eu ouvi claramente a voz da minha avó:

- Meu querido neto, há pouco você me dizia que não acredita em Deus, que Deus não existe, agora diante da eminência da morte, você corre para os braços de Deus implorando proteção?

– Meu amigo! A tempestade passou, mas por um bom tempo ela continuou despejando águas nos meus olhos, chorei tanto e nem sei por que, mas sei que precisava de chorar, pedi perdão com o coração aberto pela minha ignorância. De volta pra casa pelo caminho encontrei com vários amigos que desesperadamente estavam à minha procura, portadores da triste notícia que minha avó havia falecido, e logo indaguei:

- A que horas que ela morreu!

A hora da morte da minha avó coincidiu plenamente com aquele momento em que eu, aturdido em meio àquela tempestade rezava e implorava proteção ao Senhor Deus.

Alongou a conversa sobre acontecidos em pescarias, se levantou, o acompanhei, com alegrias estampadas me abraçou, despedindo:

- Meu amigo fica com Deus, que Deus te proteja você e toda a sua família.

Por um bom tempo fiquei no alpendre, pensando, nada como um dia atrás do outro, a estória é sempre a mesma, mudam-se os personagens, não acreditam em Deus quando estão sadios, fortes, livres de perigos, mas quando a morte clareia correm para os braços de Deus na proteção última.

Deus perdoa?

Claro que perdoa!

Você também perdoaria um filho seu de vida desastrada e que no arrependimento sincero a sua ajuda buscasse!

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 07/10/2011
Reeditado em 19/10/2011
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