Crendices e superstições mineiras (Parte 3)

1-Quando se muda de casa, deixar que o cachorro de estimação entre primeiro e ande pela casa, quando este for ao quarto, o lugar que se deitar é onde a cama do dono deve ficar. Segundo a crença isso traz sorte e vida longa à família.

(Quando era criança, meus avós fizeram uma casa nova na roça, e prevenidos soltaram o Neguvom (Nome do cachorro deles) pela casa. Ele andou, farejou e como era um dia frio o sol entrava pela janela do quarto e o danado deitou bem ali. Não deu outra, colocaram cama bem debaixo da janela, assim, pra espiar lá fora a gente precisava subir.)

2-Minha avó paterna chamava o Arco íris de “arco da velha”. Contava que ele aparecia no céu só quando chovia porque gostava de beber água só em rio cheio e ficava esperando alguém passar debaixo dele para transformar: pois se fosse homem virava mulher e vice versa.

(Uma parenta sempre quis atravessar para o outro lado do Arco íris, eu ouvia-a dizer:

—Quero sê homi... posso nascê já véio e sem dente mais quero sê homi, pruquê vida de muié é munto custosa)

3-Os antigos diziam que apontar estrelas fazia aparecer verrugas nas mãos e nos pés.

(Na roça quando criança contávamos e apontávamos estrelas para ver se aparecia verrugas mesmo, alguns tiveram, eu felizmente não. Mas se me aparecessem eu sabia o remédio: Era só oferecer uma galinha com pintinhos, se a pessoa dizia sim, as verrugas trocavam de dono.)

4-Acreditava-se que o dia de sexta feira ficava muito azarado se a primeira pessoa vista pela manhã fosse uma viúva.

(Morreu um compadre dos meus avós e a esposa dele Dona Dijanira, ainda nova, ficou sem recursos para criar a filharada, então pediu ao meu avô pra morar num ranchinho que havia no sítio dele. Minha vó que era muito prevenida e não querendo topar com a viúva toda sexta feira, deu jeito de arrumar casamento para ela rapidinho...).

5-Acreditava-se também que para uma criancinha aprender a falar mais cedo, tinha que fazer assim: uma moça virgem devia pegar a criança e ir até o curral, conduzí-la pela mão fazendo o trajeto de ida e volta por sete vezes no cocho onde o gado comia sal. Se por acaso a desavisada da moça não fosse mais virgem a criança podia ficar muda pra sempre.

(Me lembro de uma vez, uma vizinha de minha vó foi fazer a tal simpatia com o caçula, pra isso chamou a irmã solteira, tia do menino, que já era meio erada e disse):

—Ceição, passa esse minino no cocho de sal, mais oia aqui, si ele ficá mudo ocê mi paga...)