Ladainha para um pequeno Jesus
Nem bem nasceu o pequenino
E já esperavam dele
Prediziam grandes feitos
Prodígios
E o menino só queria brincar
Foi-se criando, crescendo
Forte e brando, delicado
O povo olhava e via milagres
Em seus rabiscos na areia
O menino olhava o céu
Onde um passarinho voava
E todos já deduziam
Que com Deus ele falava
E o menino, assim sozinho
Ia criando na mente ideias muito diferentes
Das que o povo esperava
O menino, coitadinho
Nem sabia o que pensar
Só queria um companheiro
Para no terreiro brincar
Um dia cresceu a criança
Um rapaz de todo comum
Não operou milagres, não rezou nem jejuou
O povo desencantado
Quase expulsou o coitado
Pois que tanto esperaram
E ele nem se dignou
A Maria da feira adoeceu
De olhado ruim, na certa
Criou chagas e tumores
Sofria e gemia nos seus estertores
Chamado que foi o rapaz
Para curar a coitada
Fugiu em desabalada
Que não se achou por três dias
Voltou cabisbaixo e sentido
Arrumou a trouxa e partiu
Foi isso
Ninguém viu
Para onde foi o menino
Que um dia pequenino
Só queria de verdade
Viver seu próprio destino.