O Matuto...
Havia uma pequena cidade perdida no meio do cerrado,
rodeada de fazendas, sítios e chácaras.
Os dias eram ensolarados, de uma claridade intensa e muito calor.
Numa manhã de verão, Felinto pedalava sua velha bicicleta, numa estrada de terra batida e por acaso se encontrou com o prefeito da cidade.
Com afabilidade o prefeito o cumprimentou:- Como vai Felinto?
“-Ah, dotô prefeto mai ou meno, to cum do na cacunda”
O prefeito sorridente falou:- Não é nada, o Seu Zé das mandiocas
faz boas massagens.
O outro respondeu: -“I cume qui vô paga?” –Oh, meu amigo leve uns ovos, galinhas e fica tudo certo.
O homem se encolheu e com voz sumida falou:- “Hum, se é ansim , num vô sara nunca da marvada.”
O prefeito se despediu dizendo:- Qualquer dia vou buscar laranjas do seu pomar.
Felinto pigarreou: -“Tá bom, dotô...”
Andava com sua velha bicicleta para não gastar combustível.
Numa tarde, vamos encontrar o prefeito debaixo da laranjeira de Felinto.
Apanhava as laranjas, com um gancho adaptado a um bambu.
As laranjas giravam no bambu como planetinhas, viçosas e amarelinhas.
Felinto tossia, suspirava e desassossegado apontava para as laranjas,
que o vento havia derrubado durante a noite. Quem sabe o amigo levasse as laranjas do chão...
O prefeito conhecedor de sua sovinice fingia não entender.
O pobre homem lamentava dizendo: -“Ah, mano tem coisa que agente pensa, mas não pode falar.” E o prefeito matreiro e com um ligeiro sorriso perguntava:- E o que você não pode falar, Felinto? Ele respondia: -“Ah, dotô, u sinhô é gente de mia mizade, nu podo falá.”
Aqui vai o perfil do Seu Felinto.
Dono de uma fazenda próspera, ambicioso e avarento.
Finalmente o prefeito terminou de apanhar as laranjas, para alívio do infeliz...
Felinto chamava todas as pessoas de “Mano.” Apelido que ganhou.
O prefeito pândego contou a história para os amigos, que espalharam pela cidade.
“Ah, Mano tem coisa que agente pensa, mas não pode falar.”
Felinto se tornou o símbolo da avareza e o paradigma de querer falar e a necessidade de calar...
Amigos sou caipira paulista.
Só que não estou atualizada no linguajar caipira...