Cinco crendices e superstições mineiras ( parte 2 )
1- Uma pessoa que fosse picada de cobra, não podia atravessar rio, nem córrego antes de ser benzido, também não podia de jeito nenhum ver mulher grávida, se o fizesse morria mesmo.
(Um vizinho de meu avô foi picado e antes de chegarem à casa, foi um amigo na frente avisar para a esposa grávida que saísse de casa até ele sarar)
2-Mulher de resguardo precisava comer sopa de galinha gorda por vários dias, quanto à carne vermelha, apenas o lombo de porco sem gordura era permitido. Era expressamente proibido comer arroz por quarenta dias, senão a barriga nunca mais voltava ao normal, virava barriga d’água.
(Quando criança, eu adorava comer a sopa de galinha que vó fazia pra minha mãe nos resguardos, ela servia a sopa numa tigela grande de louça com desenho de florzinha que deixava a sopa ainda mais gostosa).
3-No dia de São João antes do sol nascer é preciso acordar e ir até uma fonte de água limpa se olhar, espalmar as mãos e contar os dedos. Se a pessoa não enxergar o reflexo na água e nem contar todos os 10 dedos é porque vai morrer naquele ano.
(Lembro-me que na roça, junho era mês de muito frio, mesmo assim minha mãe nunca se esqueceu disso: acordava todos nós e levava lá no Corguinho e um por um, ela conferia o reflexo e contava os dedinhos de todos nós, quando mudamos pra cidade ela enchia uma caixa d'água, nunca ficou sem contar os dedos dos filhos, enquanto havia um morando na casa dela esse ritual foi cumprido).
4-Quando os pastos estão estalando de secos, é preciso chuva para começar a plantar as roças. Reza a lenda que toda vez que se rega e enfeita uma cruz chove .
(Certa vez fomos aguar a cruz. Foi uma turma de mulheres e crianças pela trilha afora levando cabaças d’água e flores até ao pé da Serra onde havia um cruzeiro.Ali rezávamos pedindo chuva, colocávamos flores, e despejávamos a água. Meu irmão mais novo, o Zé, tinha uns sete anos e nunca vi menino bom de pontaria que nem ele, um sabiá pousou na cruz, sem querer ele mirou uma pedra e acertou a ave que caiu mortinha. Todos choramos quando vimos o bichinho ali ao pé da cruz. Pior que esse dia a chuva só pingou, a meninada toda culpou o Zé, tadinho, que fica triste até hoje quando lembra).
5-Diziam os antigos que a melhor maneira de uma moça solteirona, mulher viúva e moça feia (as bonitas não precisavam) arrumar marido, era fazer uma simpatia assim: No dia que o caboclo desavisado, fosse à casa da dita cuja, esta deveria oferecer um café coado numa calcinha que tivesse usado durante o dia. Diziam que era tiro e queda. Porém o homem nunca deveria saber, senão morria.
(Gênor, meu tio avô, contava que um antigo patrão, tinha uma filha muito feiosa em casa, um dia quando entrou na cozinha da casa grande pra levar lenha, a mãe fritava uns bolinhos pra ele e a moça feia coava um café num coador estranho, ele velhaco que nem pulga pediu as contas e nunca mais voltou).