Naquela tarde, após terminarem o serviço na roça, os dois compadres resolveram dar umas tarrafadas ali no Rio Samburá, pra ver se pegavam uns piaus, dourados, mandis...
—Nóis tamu correno risco di pescá cum tarrafa, si a puliça florestar pega nóis... —falou o Chico
—Pega nada não. Ta tarde preles descê aqui na bêra do rio, bamu pescá. Tô doido pa cumê uns pexe frito cuns golo daquela cachacinha boa. —Falou o Zé.
Depois de muitas tentativas sem pegar nem lambari, Chico sentiu um peso na sua tarrafa e animado gritou ao Zé pedindo ajuda.
— Ô Cumpadi Izéeee! Tô achanu qui peguei um surubim, ta um peso danado aqui, cê vem mi ajudá!
Para surpresa dos dois, não era peixe e sim uma paca enorme embaraçada na rede. Satisfeitos pensaram logo na paca assada para a janta, porém, na tentativa de tirar a bichinha da tarrafa, esta enfurecida atacou o Chico, com seus dentes afiados, furou sua mão, que começou a sangrar, o Zé preocupado foi logo dizendo:
—Ih cumpadi Chico, o trem ta feio, a murdida foi funda, nóis vai tê qui i na cidade mode ce tomá varcina contra tétuno...
—Picisa não cumpadi Izé, isso num é nada, vombora e laincasa a muié passa arco cum arnica e o trem sara.
—Oia Cumpá Chico... Isso é pirigoso demais da conta... Meu finado avô qui Deus o tenha num bão lugá, falava qui murdida desse bicho faiz um istrago danado num cabocro.
—Pirigoso cumé?
—Uai, dizia qui uma veiz, um tio dele foi murdidu e naquele tempo num tinha a tar varcina... E além di intrevá numa cama, o coitado num teve mais sirvintia pra quês trem cá gente faiz cum muié... O pobre passô resdavida mijano nas butina.
—Credincruiz avimaria! Num fala isso não sô! Intão é pió qui a morte... A Tonha mi larga! Bamu ligêro pa cidade cumpá Izé!
Pegaram os cavalos e foram até a cidade, onde se dirigiram ao posto de saude.
O Zé entrou na frente para explicar o causo para a enfermeira enquanto Chico com a mão cada vez mais inchada, ficou na sala de espera.
—Conta como foi isso, Seu Chico... —Falou a enfermeira assim que entrou.
—Ah dotôra... Ieu tava nu chiquêro tratano duma poica cuns leitãozim novo, condo di repente ela vei ni mim e lascô uma dentada na minha mão.
—Foi assim memo, ieu tava junto c’uele e vi tudo. — Falou o Zé.
—Ta feio esse corte, nem está parecendo mordida de porca, êta bicho dos dentes afiados sô! Isso me parece mais mordida de paca, mas paca é proibido caçar, se a polícia pega, o camarada vai preso na hora. — Falou a moça meio irônica, piscando para o Zé
Chico que já era meio gago fez uma careta de dor enquanto se fazia o curativo e afirmou com voz fraca.
—É muidida de poica memo dotôra... pó criditá ni nóis.
— Oi aqui Seu Francisco, vou ser franca com o senhor, o trem ta feio, vou terminar o curativo e depois fazer uma vacina contra mordida de suínos, ainda bem que foi porca porque se fosse de paca seria muito perigoso.
—Só pá sabê... O quê qui a muidida de paca faiz cá gente dotôra...? Mata?
—Matar não mata não, mas dependendo do caso pode até entrevar a pessoa ou na pior das hipóteses causar a perda da potência sexual em pessoas do sexo masculino.
—Ieu num falei procê cumpá Chico? Conteceu cum tio meu, perdeu a macheza pu resdavida...
—Deusmelivreguarde! Issu não... Issu não...
—Não se preocupe, no caso do senhor não há risco, porque foi mordido por uma porca e não por uma paca. Vou lhe fazer um vacina contra mordida de porca.
—A sinhora tem varcina di paca aqui tamém?
—Tenho sim, mas o senhor não disse que foi porca?
Olhando de novo para o amigo que fazia a cara mais séria do mundo, ante a ingenuidade do compadre.
—É... Foi poica... Foi muidida de poica memo... Poica iscumungada aquela sô! Vô cabá cá raça dela condo chega in casa...
Após o curativo na mão do Chico, a enfermeira do posto de saude, veio com a vacina antitetânica na seringa já pronta para aplicação, com a cara mais profissional possível.
—Prepara o braço, vou aplicar.
Chico tremia feito vara verde, estava a ponto de passar mal.
—É a de poico?
—É sim. Dói menos que a de paca. —Falou a moça com olhar cúmplice para o Zé.
Quando a enfermeira se aproximou com a seringa e passou o algodão com álcool no braço do Chico, ele não se conteve e gritou:
—´Pelamordedeus! Pó pará dotôra! Pó pará!
—O que esta acontecendo Seu Chico? Não quer tomar a vacina contra mordida de suínos? Então não foi uma porca que mordeu o senhor?
—Não dotôra! Ieu num quéio essa não sinhora. Podi mi apricá a injeção pru veneno de paca!
E ainda amedrontado e trêmulo, olhou para a enfermeira, achou forças no fundo da alma e disse no tom mais alto que conseguiu.
—PODI APRICÁ A DE PACA... MAI QUI FOI POICA FOI!
—Nóis tamu correno risco di pescá cum tarrafa, si a puliça florestar pega nóis... —falou o Chico
—Pega nada não. Ta tarde preles descê aqui na bêra do rio, bamu pescá. Tô doido pa cumê uns pexe frito cuns golo daquela cachacinha boa. —Falou o Zé.
Depois de muitas tentativas sem pegar nem lambari, Chico sentiu um peso na sua tarrafa e animado gritou ao Zé pedindo ajuda.
— Ô Cumpadi Izéeee! Tô achanu qui peguei um surubim, ta um peso danado aqui, cê vem mi ajudá!
Para surpresa dos dois, não era peixe e sim uma paca enorme embaraçada na rede. Satisfeitos pensaram logo na paca assada para a janta, porém, na tentativa de tirar a bichinha da tarrafa, esta enfurecida atacou o Chico, com seus dentes afiados, furou sua mão, que começou a sangrar, o Zé preocupado foi logo dizendo:
—Ih cumpadi Chico, o trem ta feio, a murdida foi funda, nóis vai tê qui i na cidade mode ce tomá varcina contra tétuno...
—Picisa não cumpadi Izé, isso num é nada, vombora e laincasa a muié passa arco cum arnica e o trem sara.
—Oia Cumpá Chico... Isso é pirigoso demais da conta... Meu finado avô qui Deus o tenha num bão lugá, falava qui murdida desse bicho faiz um istrago danado num cabocro.
—Pirigoso cumé?
—Uai, dizia qui uma veiz, um tio dele foi murdidu e naquele tempo num tinha a tar varcina... E além di intrevá numa cama, o coitado num teve mais sirvintia pra quês trem cá gente faiz cum muié... O pobre passô resdavida mijano nas butina.
—Credincruiz avimaria! Num fala isso não sô! Intão é pió qui a morte... A Tonha mi larga! Bamu ligêro pa cidade cumpá Izé!
Pegaram os cavalos e foram até a cidade, onde se dirigiram ao posto de saude.
O Zé entrou na frente para explicar o causo para a enfermeira enquanto Chico com a mão cada vez mais inchada, ficou na sala de espera.
—Conta como foi isso, Seu Chico... —Falou a enfermeira assim que entrou.
—Ah dotôra... Ieu tava nu chiquêro tratano duma poica cuns leitãozim novo, condo di repente ela vei ni mim e lascô uma dentada na minha mão.
—Foi assim memo, ieu tava junto c’uele e vi tudo. — Falou o Zé.
—Ta feio esse corte, nem está parecendo mordida de porca, êta bicho dos dentes afiados sô! Isso me parece mais mordida de paca, mas paca é proibido caçar, se a polícia pega, o camarada vai preso na hora. — Falou a moça meio irônica, piscando para o Zé
Chico que já era meio gago fez uma careta de dor enquanto se fazia o curativo e afirmou com voz fraca.
—É muidida de poica memo dotôra... pó criditá ni nóis.
— Oi aqui Seu Francisco, vou ser franca com o senhor, o trem ta feio, vou terminar o curativo e depois fazer uma vacina contra mordida de suínos, ainda bem que foi porca porque se fosse de paca seria muito perigoso.
—Só pá sabê... O quê qui a muidida de paca faiz cá gente dotôra...? Mata?
—Matar não mata não, mas dependendo do caso pode até entrevar a pessoa ou na pior das hipóteses causar a perda da potência sexual em pessoas do sexo masculino.
—Ieu num falei procê cumpá Chico? Conteceu cum tio meu, perdeu a macheza pu resdavida...
—Deusmelivreguarde! Issu não... Issu não...
—Não se preocupe, no caso do senhor não há risco, porque foi mordido por uma porca e não por uma paca. Vou lhe fazer um vacina contra mordida de porca.
—A sinhora tem varcina di paca aqui tamém?
—Tenho sim, mas o senhor não disse que foi porca?
Olhando de novo para o amigo que fazia a cara mais séria do mundo, ante a ingenuidade do compadre.
—É... Foi poica... Foi muidida de poica memo... Poica iscumungada aquela sô! Vô cabá cá raça dela condo chega in casa...
Após o curativo na mão do Chico, a enfermeira do posto de saude, veio com a vacina antitetânica na seringa já pronta para aplicação, com a cara mais profissional possível.
—Prepara o braço, vou aplicar.
Chico tremia feito vara verde, estava a ponto de passar mal.
—É a de poico?
—É sim. Dói menos que a de paca. —Falou a moça com olhar cúmplice para o Zé.
Quando a enfermeira se aproximou com a seringa e passou o algodão com álcool no braço do Chico, ele não se conteve e gritou:
—´Pelamordedeus! Pó pará dotôra! Pó pará!
—O que esta acontecendo Seu Chico? Não quer tomar a vacina contra mordida de suínos? Então não foi uma porca que mordeu o senhor?
—Não dotôra! Ieu num quéio essa não sinhora. Podi mi apricá a injeção pru veneno de paca!
E ainda amedrontado e trêmulo, olhou para a enfermeira, achou forças no fundo da alma e disse no tom mais alto que conseguiu.
—PODI APRICÁ A DE PACA... MAI QUI FOI POICA FOI!
Nota: Ofereço esse texto a um amigo querido aqui do Recanto das Letras que infelizmente fechou sua página, mas continua acompanhando meus causos, é o Vovô Dila... Um abraço carinhoso para o senhor vô.
Quem me contou esse causo foi o Zé Ronaldo, que tem um rancho na beira do Rio Samburá. Zé, um abraço para você, para a Maria, a Caroline e a Taynara.