O POTE DE OURO E A CHUVA DE MINGAU.

O POTE DE OURO E A CHUVA DE MINGAU.

Em um dos encontros familiares na casa de uma respeitável e simpática senhora de 91 anos de idade, do interior das Minas Gerais, ela contou-me o seguinte caso:

Um dia um senhor fazendeiro da região foi ao batatal para arrancar algumas batatas inglesas, a fim de vendê-las na feira. Cavou ali e aqui. Encheu dois sacos de 60 quilos. Depois resolveu cavar mais adiante, perto do Ribeirão Seco.

Encheu mais um saco de batatas. Aí viu um pé de jatobá frondoso e resolveu descansar um pouco. O sol estava baixando atrás das montanhas de Minas. Ele tirando uma soneca sonhou que viu algo reluzente próximo à cerca. Acordou com o sonho ainda em sua memória. Pegou o enxadão e mais uma vez cavucou a terra. E achou. Achou um potão de ferro abarrotado de moedas de ouro, diamantes e outras pedras semipreciosas dentro do caldeirão já oxidado pelo tempo. Mas o ouro estava intacto e reluzia ao sol da tardinha de primavera. Então ele apossou-se do tesouro.

Aí ele pensou: e agora? Como vou esconder este ouro da mulher. E agora? Como os vizinhos não saberão deste rico achado no meu batatal. E ele foi para casa com o ouro dentro do saco no meio das batatas. Chegou em casa já à noite de lua-cheia. Os cachorros denunciaram seu retorno ao terreiro. Ele deixou o ouro escondido no paiol e adentrou a sua casa pela porta da cozinha. Sua mulher fazia um guizado apetitoso e cheiroso.

A esposa era muito faladeira e puxou conversa:

- Demorou muito em marido?

- É... A terra estava muito seca.

Ele calou-se. A mulher faladeira conversou novamente:

- Você está muito quieto. A lua está cheia.

- É... A lua está cheia. E a noite está boa para dormir, né? Acho que vai chover... Então o marido resolveu falar: mulher achei um tesouro escondido e enterrado no batatal, perto do Ribeirão Seco.

A mulher se entusiasmou: marido estamos ricos! Estamos ricos!

O homem continuou calado, pensando lá com seus botões.

O homem teve uma ideia: antes de dormirem ele faria um tacho de mingau e o derramaria pelo telhado do quarto e diria que estava chovendo mingau. Dito e feito. Foram dormir às 22:00 horas. O marido levantou pé aqui, pé ali, devagarinho e foi fazer o mingau. A esposa dormia a sono-solto... Até roncava baixo. Mingau feito o homem pôs uma escada à janela e derramou o mingau no batente e na soleira da janela. E foi deitar-se ao lado da esposa. Então passado alguns minutos cutucou o ¨bumbum¨ da mulher e gritou forte: ÉSTÁ CHOVENDO MEU BEM... A faladeira mulher acordou. Ele resmungou: Vou fechar a janela. E falou novamente: meu bem está chovendo mingau...

A mulher de curiosa levantou-se e foi até a janela verificar o fato. E falou: ué... Tá chovendo mingau mesmo... E está docinho... E o homem: é a natureza querida... É a natureza derramando bênçãos sobre nossa casa...

E foram dormir novamente.

E como o previsto pelo marido a mulher contou para a mãe o achado, contou para a comadre e contou até para o padre Fernando. A cidade toda ficou sabendo do fato. Aí o compadre do compadre numa visita perguntou a ele se o veredicto era verdadeiro. Ele desconversou: nada. A Milonga sonhou. Ela sonha muito. E o compadre: E aquelas bezerras novas que você comprou? Ah! Eu tinha umas economias... O compadre para encerrar o assunto chamou a esposa e disse: Milonga venha cá... Que dia foi que eu achei o pote de ouro?

E a esposa: Uai, foi no dia e na noite que choveu mingau...

Então o compadre arrematou: prestou bem a atenção compadre? Minha mulher sonha demais... Sonha demais...

A esposa disse a verdade e o fazendeiro não falou que havia achado o pote de ouro e muito menos onde e como.

E caso encerrado.

F I M.