Vampiro Urbano
Esta história teria mais graça se fossem dois amigos tentando zoar um ao outro, mas não foi. Tudo começou em uma noite de lua cheia, quando Jacó resolveu sair pra beber com os amigos. Jacó era pobre, não tinha condições de se embriagar nos conformes, então ele e sua gangue fizeram uma vaquinha para comprarem um vinho chapinha de cinco litros para se distraírem. Jacó ficou sentado na Praça, esperando os drinks chegarem, enquanto alguns amigos iam no carro de Eduardo até o boteco mais próximo comprar o veneno.
Enquanto Eduardo não voltava, a praça ia se completando com pessoas de todas as vibes, afins de um papo cabeça e de um calor humano. Uma destas pessoas era Diego, um garoto descolado e com um nível financeiro um pouco maior que os demais. Ele estava bebendo um vinho de marca boa com seus camaradas, até o momento que Eduardo volta com seus amigos e com as bebidas em uma sacola. Jacó, sedento por álcool, levanta correndo e sem perceber dá uma bicuda na garrafa de vinho de Diego, estraçalhando-a em mil e vinte seis pedaços.
O garoto ficou bastante sem graça e não sabia o que fazer. O correto seria se oferecer para pagar outra garrafa de vinho, mas justo daquele vinho? Não podia ser um "genérico"? Além que ele estava sem um centavo ali naquele momento. Sem saber o que falar, seus pensamentos foram aliviados quando Diego falou:
- Sem problemas, eu compro outro.
Aquele gesto de caridade fez com que Jacó ficasse profundamente agradecido e prometeu para si mesmo que um dia, em uma ocasião especial, daria um bom vinho ao Diego.
Eduardo, irritado com a burrice de Jacó, começou a desferir ofensas de todos os calões para o amigo:
- Seu jacu, mocorongo, retardado, você deveria ser proibido de sair de casa, olha o que você fez, seu energumero - enquanto xingava, ele ia catando os cacos de vidro para que ninguém se ferisse com os estilhaços - sua mãe não te ensinou a olhar para frente não? A bebida não ia sair do lugar o seu desgraçado, olha pra frente... ai desgraça!
A pregação foi interrompida com o leve som do vidro rasgando a pele da mão de Eduardo. O amigo havia acabado de se cortar com os cacos de vidro e sua mão jorrava sangue.
Jacó fez um idem ibidem de tudo que foi dito por Eduardo e o mesmo saiu para beber seu vinho chapinha em outro lugar.
Conversa vai, conversa vem, a noite foi se aprofundando até que Eduardo decidiu ir pra casa.
Ele se despediu de todos, pegando na mão de cada um e foi embora.
Jacó já estava no seu sexto copo de vinho e decidiu servir mais um. Seus sentidos já o traiam e quando ele viu sua mão estava suja. Ele deduziu que havia derramado vinho nela e, para não desperdiçar uma miligrama de vinho, lambeu todo líquido vermelho carmesin que escorria pela palma da mão e só depois de digerir que ele notou que aquilo não tinha gosto de vinho.
Um amigo, indignado ao ver a cena, começou a gritar:
- Credo vei, isso aí é sangue do Eduardo! Ele também me sujou quando me cumprimentou.
Depois deste dia, Jacó prometeu que nunca mais tomaria vinho na sua vida. E até hoje ele não criou coragem de fazer uns exames para descobrir quantas doenças ele pegou de Eduardo nessa brincadeira.