SERÁ ?
O sol brilhava no céu e as flores do jardim bailavam demonstrando satisfação pela chegada da primavera. No jardim de nossa casa havia um banco, colocado inteligentemente embaixo de uma árvore frondosa, que nesta estação, além de sombra, oferecia um aroma especial, pois seus galhos eram repletos de flores. Não posso determinar quantas vezes deleitei-me, deitada sobre a relva observando o vai-e-vem dos galhos desta árvore, que bailavam em uma cadência sem igual, criando uma sinfonia que a todos encantava. Aproveitava estes momentos para ler. Lembro-me, quando naquele recanto maravilhoso li pela primeira vez Aladim e a Lâmpada Maravilhosa. Tempo bom aquele. Agora restaram as lembranças e atualmente quando faço minha caminhada pelo parque, fico admirando as árvores que ali estão e às vezes lembro-me dos personagens daquele livro.
Um dia destes, durante a caminhada, senti alguém esbarrar em mim. Não conhecia esta pessoa. Era um jovem que também estava caminhando. Automaticamente pediu desculpas, como sempre se pede, e continuou em seu ritmo. Em outra ocasião repetiu-se a mesma situação. Só que desta vez resolvi não aceitar o pedido de desculpas e lhe perguntei porque agia assim feito um rôdo que a tudo vai atropelando para abrir caminho. Espantado o rapaz olhou para mim dizendo que já havia me pedido desculpas. É fácil pedir desculpas, falei, nem procuras te esquivar, ficas fazendo de conta que não vês quem está à tua frente. Tenho te encontrado por aqui há vários dias. O pobre rapaz nunca tinha se encontrado em semelhante situação e tentou se explicar dizendo que era muito ocupado procurando buscar coisas dentro de si, buscar as suas vontades e que era nestes momentos que dava vazão à sua imaginação, que concatenava suas ideias, chegando a dizer sentir-se o gênio da lâmpada. Ao escutar isso me veio à mente a estória de Aladim e questionei o rapaz em relação a esta analogia, pois o gênio da lâmpada concedia desejos para os outros não para si próprio. Mas é o que eu faço, continuou a dizer a ele meus desejos que são os desejos de todos. Para mim tudo pode. Tudo o que é desejado deve ser respeitado. Todos devem ter liberdade. E agora minha amiga, chamo-me João Pedro, sou médico dos ansiosos, gostaria de saber teu nome. Logicamente senti-me envergonhada, pois nunca tinha tomado tal atitude frente a um desconhecido e calmamente falei, Luna, este é o meu nome. O impacto havia se rompido e aos poucos foi-se desfazendo o clima que eu havia criado. Saímos a caminhar e depois de longa conversa durante o percurso, entendi que trazemos coisas dentro de nós, escondidas, que às vezes aparecem em nossos sonhos e que não nos sentimos capazes de realizar, alguns até meio marotos. Mas através dos desejos mais profundos os sonhos se realizam. Naquele instante vi que meu desejo adormecido era conhecer uma pessoa especial. E não é que conheci. Quem sabe não é ele o gênio da lâmpada que irá iluminar meu caminho e concretizar meus desejos?