NELSON, DE QUEM É ESSE ANEL?

Já passavam das duas da manhã. Nicole e o marido, Nelson, já haviam bebido quatro garrafas de vinho seco e as risadas soltas no jardim, à beira da piscina, denunciavam que as conversas inexatas não tinham horário para acabar. Depois de mais um gole, Nicole encontrou um anel na calçada.

- Nelson, de quem é esse anel?

- Hã? Que anel?

- Esse aqui. Estava aqui no chão.

- E eu é quem vou saber, amor? E não é teu não?

- Não. Se fosse, teria conhecido.

- Pois não é meu.

- Meu muito menos. E você não foi na segunda à joalheria?

- Fui, mas comprei um relógio e não um anel.

- Mas o que eu tenho aqui é um anel. Você comprou um anel e não um relógio?

- Não. Não comprei um anel. Comprei um relógio.

- Hum... (silêncio de 25 segundos) Você está saindo com alguém, Nelson?

- O quê?

- Olha, se estiver saindo com alguém pode me dizer logo.

- Mas eu não estou saindo com ninguém, amor.

- Mas então de quem é esse anel?

- Eu não sei de quem é esse anel.

- Aposto que você comprou esse anel para dar de presente à sua amante.

- Mas isso é uma bobagem! Eu nunca compraria um anel para a minha amante!

- Opa! Confessou!

- Não confessei nada.

- Confessou sim. Que é ela?

- Mas não tem ninguém!

- Claro que tem. E um alguém que gosta de anel. Quem é ela?

- Mas não tem ninguém, amor. Tem certeza de que esse anel não é seu?

- Tenho. Então se não é meu, é da sua amante!

- Mas eu não tenho nenhuma amante!

- É claro que tem. Você acabou de confessar!

- Eu?

- Sim. Vamos. Pode me dizer quem é ela.

- Mas amor...

- Ah, já sei. Só pode ser a Nara. Ela só fala em anel.

- Mas lá vem você de novo com essa conversa de anel. Eu não comprei anel nenhum para a Nara.

- Comprou sim! Ah!!! Foi por isso que você vive de segredinhos com ela. Aposto que você vive comprando anel para a Nara.

- Meu Deus! É claro que não! Eu não comprei anel nenhum para a Nara!

- Ei! Se não comprou para ela um anel, deve ter comprado para outra pessoa. Quem é ela?

- Ninguém, amor. Você está me confundindo. Não tem Nara e nem mulher nenhuma do anel.

- É claro que tem! Você não me daria anel nenhum assim, no meio da semana. Vamos, me diga! Me diga, senão vou dar um fim nele!

- Não! Certo, o anel é meu. Vou dar ele para a Nara.

- Você tem um caso com a Nara?

- É só um casinho. Nada mais.

- "Nada mais" e você vive comprando anel para ela, não é?

- Não. Foi só dessa vez...

- Chega. Não quero mais saber. Como é que pode Nelson? Já somos casados há tantos anos e você vem me trair logo com a Nara. Não quero mais saber de nada. Você hoje vai dormir aqui fora.

- O quê? Mas eu não posso dormir aqui fora.

- Ah, não pode dormir aqui fora, mas pode comprar um anel para a Nara, não é?

- Mas não é isso, amor. Amor? Amor?

Nicole sai em direção a casa com a taça de vinho, ainda tropeçando em seus próprios passos. Havia ido dormir. Estava triste. Para ela, não importava que o marido estivesse de caso. Era o anel. Ela não admitia que o marido desse qualquer coisa para ninguém. Muito mais um anel. Foram dormir.

No dia seguinte, coberta de dor de cabeça, Nicole acordou e percebeu que o marido não estava deitado ao seu lado. Olhou para o criado-mudo e desceu, em busca do marido. Nelson estava no sofá, dormindo. Nicole chegou perto dele e disse:

- Amor, você viu a minha aliança?

Nelson respirou fundo, num profundo alívio. Parecia que a esposa havia esquecido da Nara...