O Legal e o Justo
“ ... a paciência só é boa enquanto dura..."
Do meu ponto de vista de leigo, Legal e Justo parecem tudo a mesma coisa. Mas se for examinar com mais cuidado e com a ajuda de especialistas, vou ver que se trata de assuntos bem diferentes. Por exemplo: O cidadão que, com o PODER nas mãos, desvia verbas e oportunamente delas se apropria, comete um crime do ponto de vista legal. Outro cidadão, com a fome rondando sua família de seis elementos, sendo 4 crianças, se apropria de duas latas de sardinhas em um supermercado, também comete um crime do ponto de vista legal. E a pergunta que faço é a seguinte: Se condenarmos os dois por apropriação indébita estaremos praticando a Justiça? Certamente estaríamos praticando a Lei, mas quanto à Justiça fico com minhas dúvidas.
O “Causo” que agora passo a escrever, ouvia de meu Pai, Chico Português, infinitas vezes, mas sempre em situações diferentes. Sempre procurando esclarecer o assunto tratado no parágrafo anterior. Um menino nasceu, como muitos outros, na vizinhança. Mas este era diferente, principalmente na aparência física e na lentidão ao tentar resolver pequenos problemas (provavelmente portador da Síndrome de Down). Cresceu com os demais. Mas, certamente apoiados nos preconceitos dos adultos, começaram a tratá-lo de forma diferente. E daí para subestimá-lo foi um passo. O apelido veio logo: BOBINHO. Esse apelido foi carregando pela vida afora. Até porque palavras não depreciam, mas sim as idéias que elas representam. Com o avançar da idade as coisas foram se complicando. Os mais cruéis já não mais se contentavam em lhe “atribuir apelidos”, passaram também a usar pequenas pedras ou qualquer outro objeto de pequeno porte. Aquele ser tudo recebia com tristeza, mas também com sabedoria. Não reagia. Certa feita, já com mais de 18 anos, sofreu um ataque de um menino (12 anos) com bastante violência. Perdeu a sabedoria e reagiu. De posse de um pedaço de ripa de peroba, apanhou o pequeno pelo braço e resolveu, naquele instante cobrar tudo que a convivência humana lhe devia. O incidente só não terminou em tragédia porque outras pessoas interferiram e tiraram de suas mãos a vitima (ou réu?) da agressão. Felizmente nenhum osso se fraturou. Mas os demais ferimentos foram graves. Internação em UTI por um considerável tempo. E o agressor preso e indiciado por crime(doloso?) de tentativa de homicídio. Foi a julgamento popular. Depois de todo os procedimentos da Lei, chega o momento da palavra do advogado de defesa. E assim ele se pronunciou: “Meritíssimo Sr. Juiz, prezado senhor Promotor de Justiça, senhores jurados e demais cidadãos aqui presentes. Rogo ao Supremo Criador que lhes dê sabedoria para resolver este caso com JUSTIÇA...” E assim passou a repetir esta frase com o propósito de continuá-la indefinidamente... Lá pela quinta vez, o Juiz, já irritado, interferiu: Prezado Senhor! Por acaso está querendo zombar dos aqui presentes? Caso não mude seu procedimento casso-lhe o direito de prosseguir na sua defesa!!! Não Meritíssimo!!! Em poucos minutos que dediquei de fino tratamento a todos, inclusive pedindo a proteção do Supremo Criador, causei-lhe irritação. A vida inteira meu cliente foi insultado e desrespeitado, suportando tudo com SABEDORIA. Perdeu essa SABEDORIA uma única vez e aqui está para ser julgado e possivelmente condenado por nós. PENSEM NISSO!!! Ouvido o corpo de Jurados, o Juiz absolveu o réu... (oldack/10/03/011). Tel. (018) 3362 1477.