COBRA QUASE FOI PRESA AO PEGAR TATU

Nossa terra é um lugar bom de viver, gente humilde e solidária, mas, em matéria de apelidos é campeã chegou aqui para uma temporada, querendo ou não ganha logo seu apelido, são vários e os mais pitorescos. Temos coelho, leitão, gorila, jacaré, tico-tico, sabiá, tiziu, peixe, cobra e muitos outros.

Fia Cobra foi o apelido que Idalina herdou da mãe, Maria Cobra, sobrenome vindo do marido Divino Cobra Preta.

Casou-se com um senhor bem mais velho do que ela, também apelidado por José Nosso. Depois de alguns anos casados,com o marido adoentado, impossibilitado de trabalhar, o casal com seus quatro filhos foram acolhidos pela sociedade São Vicente de Paula, indo residir nas dependências da vila vicentina assistidos pelos confrades.

Com o falecimento do marido, a Fia Cobra que sempre foi trabalhadora se desdobrava ainda mais nos serviços viajando longos trechos a pé trabalhando como domestica pelas fazendas nas redondezas.

Certo dia à tarde meu irmão regressando do trabalho cruzou com ela conduzindo um tatu que acabara de abater próximo a BR MG 164. Preocupado com o risco de ela encontrar a policia ambiental, que sempre faziam rondas pelas imediações, meu irmão retornou seu carro para adverti-la, mas, não houve tempo. Por incrível que pareça uma viatura policial acabava de parar junto a ela. Um policial desceu do carro e disse: e aí dona fazendo uma caçada? Exibindo um largo sorriso de felicidade ela respondeu: -- magina qui sorte qui ieu tive, fais tempo cus meus mínino num come carne hoje dei cum essa sorte o bichinho veio pra minha banda justa no lugá qui tinha um pau mode taca nele, Deus é mesmo bão asveis tarda mais nunca farta!

Olhando para seu superior o policial perguntou: - e ai tenente o que faremos? –Diante da situação o militar exclamou: - dona do céu o que a senhora fez conosco? – Uai pru que? - Então a senhora não sabe que é crime abater animal silvestre? –Mais só fartava mais essa, querdizê que pobre num tem direito de mata um tatu mode cumê ua carninha. –Dona eu teria que prender a senhora em fragrante, mas, vamos fazer o seguinte eu tenho um saco com umas redes que foram apreendidas aqui na viatura vou colocar este animal dentro dele e a senhora não deixe que ninguém veja-, vai dar de comer a seus filhos, mas, pelo amor de Deus não deixe ninguém saber que nós a encontramos nem tampouco que a ajudamos senão quem vai preso somos nós. Meu irmão agradeceu aos policiais e os parabenizou pela atitude, os colocando a par da situação da pobre viúva.

Praticaram um ato digno, agindo com o coração, atitude que merece aplausos.

Prender uma pobre viúva seria uma grande injustiça como vem ocorrendo com muitos idosos que são responsabilizados pelo pagamento de pensões dos netos que são colocados no mundo por filhos irresponsáveis.

A pouco acometida por um câncer, Idalina a querida Fia Cobra faleceu, sua morte causou grande comoção na comunidade que compareceu em massa para o ultimo adeus, inúmeras coroas em sua homenagem de despedida provou o valor de sua amizade, superando muitas figuras ilustres de nossa terra que já partiram.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 08/09/2011
Reeditado em 02/11/2016
Código do texto: T3207175
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