VAGA-LUME TEM TEM....
No sítio era assim, após o jantar, depois de um dia cansativo na roça, todos se reuniam no terreiro para prosear enquanto as crianças iam brincar.
Eram vários tipos de brincadeiras, dependendo das circunstâncias ou como a natureza se apresentava. Se fossem noites enluaradas, a brincadeira preferida era “feda” (barata), esconde-esconde, balança caixão, cabra-cega, bugalha, perna-de-pau e salva, ou então todos iam para o terreirão de secagem de café ouvir o Elias tocar violão e cantar música caipira.
Nessas brincadeiras todos participavam menos papai e mamãe. Claro que algumas brincadeiras como “salva”, por exemplo, que eram mais brutas, os grandes tinha sempre que preservar a integridade física dos pequenos, disso papai e mamãe não abria mão, e ai daqueles que ousassem machucar as crianças.
Quando era noite escura as brincadeiras eram outras. Nas noites de inverno ou chuvosas, as preferidas de nós crianças era ouvir casos de assombração que na maioria das vezes eram contados por mamãe, carregadas com certo grau de dramaticidade de forma bem teatral, geralmente com apelo religioso, onde o bem duelava com o mal. O bem sempre era representado por entidades ligadas à Igreja católica ou animais dóceis e o mal era representado por animais de aparência que, hoje eu não diria feia, mas exótica talvez, como o bode, a serpente, o porco, o sapo, além é claro das figuras folclóricas como o lobisomem, a mula sem cabeça, o saci pererê, o caipora, o neguinho d’água, o pai da mata etc. Nós crianças com certeza ficávamos atentas e com os olhos arregalados, grudados à saia de mamãe, viajando com a história pelo mundo dos sonhos e da imaginação.
Nas noites quentes de verão, a brincadeira preferida era a caça aos vaga-lumes. Cada um pegava um vidro branco e assim que escurecia, aproveitando a revoada dos insetos, saíamos para capturá-los, quem pegasse mais, seria o vencedor da competição. Saíamos pela escuridão do vasto quintal a gritar “vaga-lume tem tem, teu pai ta aqui tua mãe também... vaga-lume tem tem, teu pai ta aqui, tua mãe também”, com a intenção de chamar os bichinhos. Claro que isso não ajudava em nada, mas nós acreditávamos que sim e isso já bastava, o importante era ver quem conseguia capturar mais, e para isso, usávamos todo e qualquer tipo de instrumento dos quais dispúnhamos como vassoura, galhos etc., além de alguns recursos, como por exemplo, um sobre os ombros do outro para pegar os que voavam mais altos. Para derrubar o luminoso voador valia tudo.
Feita a coleta e a contagem para saber quem era o vencedor da competição, colocávamos os insetos em um recipiente maior e transparente e todos se reuniam no terreiro para conversar à luz clara e esverdeada, fornecida naturalmente pelos vaga-lumes.
Era o máximo!!!