O vulto negro

Tinha acabado de telar uma camisa, a tinta ainda estava fresca e eu retocava alguns pormenores quando, de repente, surge um vulto negro justamente em cima da estampa, puxei-o dali rapidamente e o atirei no chão, estava naquele momento preocupada com a camisa que dera tanto trabalho e agora estava toda borrada, gritei com ele encolerizada, ele só me olhava com aquele semblante sério; seus grandes olhos amarelos não compreendiam o que se passou.

Morcegão é um jovem gato preto, sereno, de pêlo macio e sedoso, de porte extremamente elegante e possuidor de um miau singularmente fino!

Passei o restante do dia sem encarar-lhe, ele, igualmente indiferente, ambos orgulhosos.

Já pelas horas de deitar-me encontrei-o casualmente na cozinha, percebi que me fitava com sua inerente seriedade. Peguei-o nos braços e, arrependida, lhe pedi desculpas, expliquei que fui impulsiva e que não desejava que aquele mal-estar se perdurasse, ele ouvia complacente. Coloquei-o de volta no chão e voltei para a sala, em seguida ele veio até mim, pulou no meu colo e, junto com seu ronronar, senti o alívio que me absolveu.

Os gatos não guardam ressentimentos, diferente dos homens.

Lorene Dias
Enviado por Lorene Dias em 28/08/2011
Código do texto: T3187880
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