DE MÉDICOS E DE LOUCOS(PARTE 3)
UMA DOENÇA FINÍSSIMA.....
Nunca duvidei que meus pacientes ensinariam-me ,e ainda ensinam-me pela vida,coisas tais como o significado do respeito às diferenças e à individualidade ,enxergar o doente não como doença,mas como sujeito capaz de expressar sua insatisfação,sua dor e suas vontade...s e fazer-nos enxergar para dentro de nós mesmos,para as nossas limitações diante do que não podemos mudar com a medicina.E com Raimunda não foi diferente:conhecia-a numa enfermaria de um hospital geral,onde internavamos pacientes que apresentavam seu primeiro surto psicótico e ainda sem sinais de cronificação de doença e por essa razão mais propensos à responder melhor ao tratamento medicamentoso e de reabilitação social.
E foi com aquela nordestina,retirante,mais uma Raimunda entre tantas brasileiras sofridas e excluídas pelo sistema social,vestida apenas com o uniforme do hospital que a igualava às demais ,que aprendi o quanto o adoecimento mental não é sinônimo de perda de valor ,nem de individualidade ou significado pessoal.
Certa manhã em que eu a reavaliava,Raimunda interrompeu minhas perguntas para fazer a sua,com seu indefectível sotaque:
_MAS AFINAL DOUTORA,O QUE É QUE EU TENHO? QUE DOENÇA É ESSA?
Pensei em como explicar - lhe em linguagem não técnica e de maneira clara,fazendo-a compreender que sofria de Doença Afetiva Bipolar,caracterizada entre outros sintomas por ideação deliróide de grandeza,verborragia e inquietação motora.
Disse-lhe então:
_Olha Raimunda,vc sofre de uma doença muito DELICADA chamada Doença Bipolar.Faz você ficar assim inquieta,`as vezes agressiva e sem sono.Mas se você seguir o tratamento correto,usando regularmente as medicações,ficará estável podendo levar uma vida normal.
Mas mal terminei minha fala,Raimunda saiu em debandada pelos corredores da enfermaria e ,cheia de orgulho delirante,gritou:
_,PESSOAL, DE HOJE EM DIANTE VOCÊS ME RESPEITEM PORQUE A MINHA DOUTORA DISSE QUE EU TENHO UMA DOENÇA FINÍSSIMA!!!!!!!UMA DOENÇA CHIC.... FINÍSSIMA!
MARCIA TIGANI_AGOSTO 2011
UMA DOENÇA FINÍSSIMA.....
Nunca duvidei que meus pacientes ensinariam-me ,e ainda ensinam-me pela vida,coisas tais como o significado do respeito às diferenças e à individualidade ,enxergar o doente não como doença,mas como sujeito capaz de expressar sua insatisfação,sua dor e suas vontade...s e fazer-nos enxergar para dentro de nós mesmos,para as nossas limitações diante do que não podemos mudar com a medicina.E com Raimunda não foi diferente:conhecia-a numa enfermaria de um hospital geral,onde internavamos pacientes que apresentavam seu primeiro surto psicótico e ainda sem sinais de cronificação de doença e por essa razão mais propensos à responder melhor ao tratamento medicamentoso e de reabilitação social.
E foi com aquela nordestina,retirante,mais uma Raimunda entre tantas brasileiras sofridas e excluídas pelo sistema social,vestida apenas com o uniforme do hospital que a igualava às demais ,que aprendi o quanto o adoecimento mental não é sinônimo de perda de valor ,nem de individualidade ou significado pessoal.
Certa manhã em que eu a reavaliava,Raimunda interrompeu minhas perguntas para fazer a sua,com seu indefectível sotaque:
_MAS AFINAL DOUTORA,O QUE É QUE EU TENHO? QUE DOENÇA É ESSA?
Pensei em como explicar - lhe em linguagem não técnica e de maneira clara,fazendo-a compreender que sofria de Doença Afetiva Bipolar,caracterizada entre outros sintomas por ideação deliróide de grandeza,verborragia e inquietação motora.
Disse-lhe então:
_Olha Raimunda,vc sofre de uma doença muito DELICADA chamada Doença Bipolar.Faz você ficar assim inquieta,`as vezes agressiva e sem sono.Mas se você seguir o tratamento correto,usando regularmente as medicações,ficará estável podendo levar uma vida normal.
Mas mal terminei minha fala,Raimunda saiu em debandada pelos corredores da enfermaria e ,cheia de orgulho delirante,gritou:
_,PESSOAL, DE HOJE EM DIANTE VOCÊS ME RESPEITEM PORQUE A MINHA DOUTORA DISSE QUE EU TENHO UMA DOENÇA FINÍSSIMA!!!!!!!UMA DOENÇA CHIC.... FINÍSSIMA!
MARCIA TIGANI_AGOSTO 2011