A rifa do Ditinho

*A rifa do ditinho

Escrever sobre o Ditinho traz tantas saudades dele! Passear ou simplesmente passar por bambuais faz com que sinta ele em cada folha. Então a angustia que sinto de não tê-lo a meu lado tento resolver escrevendo algo sobre sua infância casos reais e outros contados por ele... Bom chega de lá...lá...lá...

Sabe aquelas brincadeiras de escolher uma casinha numerada para a cotia entrar e se acertar ganha um brinde? Então tinha todo tipo de premio que tinham sido doados por freqüentadores da N S do Bom Sucesso, prendas eram muitas: Roupas, brinquedos, quadros, estatuas... Entre tantos ótimos prêmios...

Era um dia especial, Ditinho ganhou na escola um lindo cachorrinho, ficou encantado com o bichinho, tão encantado que até esqueceu-se de lembrar que sua mãe não suportava animais, e principalmente os domésticos que insistem em entrar dentro de casa... Não que ela não gostasse de cães, somente não gostava de tê-los... Chegando em casa não teve choro nem vela, vai devolver esse carrinho de pulga...

“Mamãe, nunca te peço nada, mãe... Só hoje...”.

A conversa vai, a conversa vem... Conseguiu Ditinho adiar até amanhã de manhã, não que premeditasse algo, mas celebro de crianças passa mil idéias sugestivas... Úteis, inúteis, destrutivas, construtivas e umas que não tem explicação lógica.

Acordou cedo e saiu para escola, encafifado pensava... Que fazer com o cachorrinho... Eis que o desanimo e a tristeza se evaporou, um sorriso uma feição de alegria quem cruzava com ele logo devia estranhar... Um molecote segurando um cachorro e gesticulando e fazendo fisionomias engraçadas.

Idéias e cálculos e... A idéia era simples, faturar um dinheirinho, já que teria que dar, por que não... Vender? Chegando à frente da escola logo se espalhou a notícia do cão a venda e mais rápido um comprador... Era o coleguinha Zico, eitá esse era espevitado... Coitado do cachorrinho, o menino era uma bisca, mas fazer o que, quer comprar, tem dinheiro, pagou, o cachorro é teu disse Ditinho.

Dois dias depois vem Zico com uma notícia entristecedora, o cão morreu, como morreu dizia Ditinho, e o colega dizia pode devolver meu dinheiro o bicho tava doente, tava com defeito, não quero saber, quero meu dinheiro, alegava Zico que Ditinho havia vendido por isso. Para não criar confusão Ditinho apesar de já ter gastado o dinheiro, decidiu resolver o problema de alguma forma, disse então...

“Bom eu devolvo o dinheiro na semana que vem... Mas eu quero o cachorro!”.

“Como assim quer o cachorro? Ele está morto!”.

“Não interessa, o dinheiro é teu eu devolvo, o cachorro é meu você devolve”.

Na outra semana conforme combinado estava lá ditinho devolvendo os cinqüenta reais que havia recebido pela venda do cãozinho, chamou Zico, pegou em sua bolsinha de cordão, tirou um paco de dinheiro picado, contou exatamente a quantia devida e pagou Zico que surpreso indagou onde ele tinha conseguido aquela grana toda...

“Bom como você é meu amigo, confio um segredo a você... Simples fiz uma rifa do cachorro!”

“Uma rifa de um cachorro morto, quem é bobo pra compra, sujeito?”

“Ai que entra a astúcia... “sujeito”, eu não falei que ele estava morto, comprei uma cartela de cem números, por um conto no armazém, fiquei na porta da Igreja São José, aproveitei e pedi uma graça pra São Benedito... Meu santinho protetor e modéstia parte fiquei incansavelmente até vender todas, arrecadei cem reais, gastei um ná cartela e devolvi os teus cinqüenta... Plin, lucrei quarenta e nove”.

“Ei e o ganhador do cachorro o que falou?”.

“Opa já ia esquecendo, não lucrei quarenta e nove, lucrei quarenta e oito. A ganhadora foi a Zalica, tadinha havia ficado tão feliz ao saber que tinha sido sorteada e tão triste quando lhe devolvi o dinheiro e disse que o cãozinho tinha morrido”

“E Ditinho, pelo menos me paga um sorvete...”

“Tá, boa pedida, comemorar com um sorvetinho vai bem... Mas cada um paga o seu”.

Marcos Pestana
Enviado por Marcos Pestana em 24/08/2011
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