Sábado
Naquela sexta Anita arrumou-se como de costume, tomou café às pressas e saiu para mais uma leitura de suas poesias. Chegou ao seu destino, sentou na mesma cadeira que lhe era reservada há meses, abriu um de seus livros na mesinha redonda, pequenina, ajeitou os cabelos claros, respirou fundo.
Naquela sexta Anita sentiu um frio gélido no ar, mas tentou não se comover. Lia com voz suave suas poesias prediletas, enfatizava cada sílaba como se fosse a última. Emocionou-se e conteve as lágrimas. O livro estava chegando ao fim.
Naquela mesma sexta foi embora, pensamento vago, cabeça longe. Pressentiu. Sábado chegou e, com ele, mais uma oportunidade de compartilhar seu amor pelas poesias. Arrumou-se como de costume, tomou café às pressas e saiu. Chegou e nem sentou. Viu sob a mesinha redonda, pequenina, um singelo bilhete que dizia “Agradecemos por sua amizade e dedicação de sempre”. Ao lado da cadeira, a cama hospitalar vazia. No lugar, uma rosa. Sim, ela sabia, o livro havia chegado ao fim.