Profissão Ditinho
Profissão é um assunto muito importante, uns dizem que é vocação, outros que é oportunidade, há quem diga que é de pai para filho. Profissão é seguir carreira, fazer com amor e carinho do seu ofício uma arte. É hereditário, escolhemos um ídolo ou exemplo e sai da frente que por trás vem gente. Não que de certo com todos, mas sempre sonhamos com o que gostaríamos de estar fazendo...
Foi assim que aconteceu com Ditinho na época em que ele era coroinha...
Quem perguntasse o que seria quando crescesse, com certeza escutaria...
“Padre, uê”.
Padre com prazer, Ditinho era o maior fã do padre Ignácio, adorava estar na igreja fazendo alguma coisa útil ou uma artezinha qualquer. Mas o que ele não sabia, era que na realidade ele não admirava a religião e sim o ser humano durão e carinhoso, exigente e compreensivo, generoso e comedido que era Ignácio. Tudo isso unido ao bom humor do padre fazia com que Ditinho órfão de pai, enxergasse naquele homem o seu ideal de vida. Ignácio era o pai que o menino nunca teve. Porém as coisas caminharam para outro lado...
Com a morte do padre Enéas da paróquia de Lorena, o padre Ignácio foi incumbido de ficar em seu lugar até que outro substituto chegasse à cidade e ele pudesse voltar. E para substituir o padre Ignácio, foi enviado de uma igreja próxima, o padre Amaro.
Sem saber da repentina mudança, Ditinho entrou na igreja correndo e sorridente como sempre, ainda longe viu o novo padre, diminuiu a velocidade engoliu o sorriso, aproximou-se do sacerdote, admirado e surpreso, vacilante... Estava em dúvida do que falar... Lembrou de um dos conselhos do padre Ignácio, e o colocou em prática, olhou nos olhos de Amaro e disse...
“Boa tarde padre”.
Inesperadamente padre Amaro olhou para Ditinho, e retrucou...
“Não aprendeu a tirar o boné quando entra na igreja menino...”.
O padre desviou de Ditinho e continuou sua caminha em direção à entrada da igreja.
Ditinho ficou espantado com tal resposta, perdeu a compostura, e antes que o padre chegasse à porta, Ditinho já tinha passado por ela em direção a sua casa.
Um fato aparentemente insignificante. O padre poderia ter devolvido o agrado e instruído o jovenzinho a ser mais atento aos costumes religiosos, perguntar o nome, e o porquê da corrida tão alegre. Porém essa desatenção do padre substituto ligou em Ditinho um mecanismo que alterou do respeito pelo medo, da admiração pela incompreensão. E o mais importante, a inspiração de sua vida a dúvidas sem respostas.
Aquele padre perdeu a chance de fazer aquela ovelha promissora ser um dia, mais um pastor de sorrisos e corações. Poucas palavras separam o futuro de um rapazinho peralta, mas educado, de ser o que sua admiração mandava, para ser o que a vida lhe propusesse.
Mas tarde quando lhe perguntavam o que queria ser quando crescesse, ele respondia...
“Farmacêutico igual o meu pai”
O tempo passou transformou o Pindense Ditinho no contador Benedicto... Passou e transformou Benedicto em atleta, e passou para o Poeta Pestana, o atleta poeta. Que hoje está com Deus e, comigo, restaram saudades e admiração.