A CAGADA DO DIRCEU
Contou-me, ontem, o Dirceu, de uma dessas dores de barriga desvairadas que nos acomete inesperadamente, e, por fina ironia, quase sempre em locais constrangedores ou lugares ermos, embora inapropriados.
Ao sair da “pamonhada” em casa de sua veneranda mãe, mostrava-se alegre, disposto a percorrer a distância que o levaria de volta a sua casa. Nada além pela frente que os nove quilômetros de estrada de chão, costumeiramente caminhada em menos de duas horas. Dizia ele: “já havia passado a chácara do Manoelito, coisa de meia hora depois...” segundo ele a barriga roncou espetacularmente produzindo um rápido volteio interno obrigando-o a segurar o empuxo. Nada que não pudesse prosseguir, mas providência devia ser tomada e com urgência, ainda que a imediação não o encorajasse.
E assim foi até a situação desandar de vez obrigando-o a trocar, além, alguns passos e parar. As pernas agora travaram tamanha a dor no baixo ventre premido. Não à-toa imaginava carregar grande bola de chumbo sobre a bexiga dificultando-lhe a locomoção. Pensou ceder. Mas como? Ali não havia sequer uma moita, uma trincheira que o protegesse. Desviou o pensamento e se pôs a caminhar lentamente; assim não abriria mão do feroz controle muscular feito até então.
Novos passos vieram com enorme dificuldade; a sensação “desconfortável” e as dores martirizavam-no a ponto de, a qualquer momento agachar-se por ali e ceder, indiferente a qualquer indiscrição porventura vinda e vivida. Mas o local descampado, livre de algum anteparo, estava novamente a inibir-lhe o ato. O intestino pressentindo a porta de escape fechada, volteava-se no sentido de reacomodar a massa em sua insana vontade de sair, gerando com isso movimentos de gases torturantes.
Do grande esforço que já fazia, somou ainda morder os lábios e a cerrar as mãos ao extremo das forças. Paradoxalmente constituía um exercício dúbio num abrir e fechar, em que ações desmedidas inevitavelmente poriam tudo a vazar. Dirceu aterrorizava-se com isso.
Ainda de pernas amarradas --- explicou --- seguia “calambiando” estrada afora. À vista de algum conhecido ajeitava o andado, cumprimentava-o ligeiramente e tocava em frente. O inesperado tornava-se evidentemente indesejado. Dizem sàbiamente as más e as boas línguas que se não há bem que dure sempre não existe mal que nunca se acaba; Dirceu felizmente constatava, à sua frente, a veracidade da afirmação. Correndo manso em meio a mata generosa em suas margens, o ribeirão da Pedra Fria seguramente poderia aliviá-lo em definitivo. E assim foi.
Arriada a calça agachou-se apressado; sem nenhum esforço sentiu a massa mole que tanto o pressionava ganhar o chão úmido e fofo num canudo longo amarelado, infindável, indo se enrolar junto a seus pés, cuja outra ponta ainda se encontrava alojada nas profundidades de seu intestino grosso. A alça intestinal cedia relaxada; nenhum esfíncter era pressionado finalmente, nenhum esforço despendido. A abevacuação completava-se naturalmente, proporcionando o alívio esperado.
Pode sentir, enfim, um calafrio de prazer percorrendo-lhe o corpo, levando-o a esgaravatar a terra ao seu redor. O dedo, ao compasso do cérebro ora distraído, escarafunchava paciente os montículos de terra ao lado, esboroando-os para, finalmente, fustigá-los para longe.
Por fim forçou o intestino pela última vez certificando-se da plenitude do ato. Sentiu-se saciado, prazerosamente lânguido; mesmo assim, o tardar no local despertou-o; ainda de cócoras desviou-se do monte sob si, apoderando-se de dois talos de planta ao seu redor; estes talos, na extensão não mediam mais que um palmo de adulto e o diâmetro não indo além do mindinho de uma criança. Descascou-os cuidadosamente à feição de torná-los ásperos, metendo-os um a um entre as nádegas num movimento rápido, raspando a região anal; assim, dava-se por feito o serviço da limpeza.
Terminado, Dirceu levantou-se ajeitando a calça na virilha e “picou” para casa.
“Mas... a limpeza com os pauzinhos não o deixou agastado?...andando com aquilo ainda meio sujo?...” Perguntei-lhe depois constrangido, expressando singular careta de incômodo.
Tranquilizou-me, o cagão, esclarecendo tratar-se de velho costume local, ocasião em que não exista algo mais apropriado.
Se é assim...