A LEI DA SELVA OS FENÔMENOS E CAPRICHOS DA NATUREZA
Criado no mato até sete anos de idade vivenciando em um rudimentar primitivismo; com a minha ingenuidade infantil, eu não aceitara bem a idéia de nossa mudança deixando aquele paraíso onde nasci. E parecia estar tão distante. No entanto meu avô estava irradiante com a oportunidade de estarmos juntos e me cercava de um carinho todo especial. Recebeu-me como se eu fosse seu primeiro e único neto. Meu primeiro presente foi uma mexerica saborosa que ele fez questão de cascar dentro da bica dá água do monjolo ensinando-me a eliminar o forte cheiro do sumo.
Após os primeiros dias freqüentando a escola chegou momento de receber a primeira lição ecológica ministrada por ele. Seu entusiasmo havia me contaminado aguçando o desejo de acompanhá-lo para o nosso primeiro passeio juntos.
Mais tarde já adulto pude compreender os motivos que o levaram a insistir tanto, como se eu fosse alguém tão importante. Ele quis fazer de mim seu seguidor, um discípulo na preservação ambiental cultuando a natureza.
Íamos à sesmaria nome de uma parte de sua fazenda, situada onde se cultivavam extensas lavouras de cereais em se tratando das áreas de terras mais férteis, circuladas por extensos brejais também cultivados, e com alta produtividade de arroz.
Em fim chegou o tão sonhado momento, após aguardar com ansiedade por três longos dias até que chegasse o sábado, para que eu não faltasse à aula. Saímos, ele calçando um par de polainas longas, usando um capacete modelo policial. Sua figura está eternizada em minha mente e sempre o visualizo imaginariamente nos momentos que me vem à lembrança, este nosso primeiro contato. Mais duas pessoas, cujos nomes não me recordo nos acompanharam. Tenho apenas uma lembrança e a certeza de sentir a mesma sensação que atualmente sente uma criança abastada ao visitar a Disneylândia.
Minha primeira surpresa foi o encontro com uma multidão de sapinhos que vinham ao nosso encontro na direção do cerrado. Fiquei encantado. Nunca vira tantos animais tão pequeninos e por mais esforço que fizemos foi difícil não pisarmos em vários deles, uma vez que cobriam toda a área da estrada. Satisfazendo minha curiosidade ele explicou-me que se tratava de uma migração. Um capricho da Natureza transferindo-os para fugir das cheias que aproximavam com as chuvas contínuas que chegariam muito breve. Quando ocorre este fenômeno, temos chuvas até por noventa dias seguidos alagando os brejais, explicou-me. - O que é fenômeno? ... Perguntei!
–Fenômeno é um acontecimento extra-ordinário, inesperado, mais um capricho da Natureza!
Dando continuidade ele descreveu o ciclo evolutivo de vida daqueles pequenos anfíbios, com suas transformações metamórficas até ao ponto de se migrarem, voltando ao pântano mais tarde em idade adultos, para procriarem nos alagados.
Caminhávamos pausadamente, deixando para trás aquela estrada branca, arenosa, cortada pelo os carros de boi. Na medida em que avançávamos, deslumbrados, meus olhos embarcavam todas as maravilhas do encantador cenário. Arvores centenária, onde uma diversidade de pássaros, de todas as cores, formava uma genial orquestra numa sinfonia de rara beleza. Ao fundo arrebatado do ventre da terra um gigantesco olho d’água formando o belo e límpido lago azul que partia ao meio o imenso pântano indo desaguar no rio picão. Para mim um pequeno oceano com variados cardumes, espécies que eu jamais vira. Encantei-me com o malabarismo das espécies que disputavam cada inseto que batia contra a água, suas escamas espelhavam contracenando os raios do sol que refletiam magnificamente no leito as cores que me pareceram fábricas de arco-íris. Belas aves aquáticas mergulhavam no seu caudal buscando seus petiscos. Às margens do pântano macacos micos e insetos coloridos compartilhavam espaços nos arbustos floridos. Mais ao fundo a paisagem apresentava um tapete verde agropastoril sob um céu infinitamente azul, como se um pano de fundo para um bando de garças brancas que continuamente sobrevoavam inspecionando as áreas alagadas. A fragrância das flores aromatizava o ar combatendo o cheiro podre dos brejais. Carregada de perfume a brisa tocava-me o rosto de leve, carinhosamente, como se tivesse me dando boas vindas ao paraíso encantado que eu julgava diante de meus olhos.
A essa altura senti-me como parte daquele fabuloso paraíso, ouvindo detalhadamente o discurso que vovô passava-me explicando as funções de cada animalzinho que compunham a natureza. Eis que derrepente um gaviãozinho azul que flutuava borboleteando no ar deu um mergulho rasante como se fosse estourar contra o chão. Fiquei curioso, e ele explicou-me que aquela pequena ave de rapina estava apenas cumprindo a lei natural da selva, lutando pela sobrevivência, a esta altura o pássaro já ia bem longe levando nas garras sua presa talvez para alimentar os filhotes. Esta é a lei natural da floresta concluiu. Deslumbrado de emoção eu tentava escolher onde encontrar maior beleza, se naquele mundo ecológico ou na figura de meu avô, um ecologista nato.
Ao voltarmos para casa nossas imagens já se confundiam com as silhuetas das árvores alongadas pelo sol se escondendo no poente. A brisa soprava suave empurrando o ar frio. As aves de hábitos noturnos começavam a se espalhar em sua jornada, misturando seus cantos e gritos com o coaxar das rãs, e bem no fundo muito distante a piarem triste, as corujas, anunciavam mais uma noite sem luar. Iluminada por miríades de vaga-lumes e lacraias que se espalhavam pelos brejais como se fosse um fundo espelhado refletindo o infinito coalhado por bilhões de estrelas.
. (Obs.: lógico que naquela idade eu interpretava com a minha maneira de menino chucro, e não com esta concepção atual).
OBS: (IMAGEM GOOGLO)
Criado no mato até sete anos de idade vivenciando em um rudimentar primitivismo; com a minha ingenuidade infantil, eu não aceitara bem a idéia de nossa mudança deixando aquele paraíso onde nasci. E parecia estar tão distante. No entanto meu avô estava irradiante com a oportunidade de estarmos juntos e me cercava de um carinho todo especial. Recebeu-me como se eu fosse seu primeiro e único neto. Meu primeiro presente foi uma mexerica saborosa que ele fez questão de cascar dentro da bica dá água do monjolo ensinando-me a eliminar o forte cheiro do sumo.
Após os primeiros dias freqüentando a escola chegou momento de receber a primeira lição ecológica ministrada por ele. Seu entusiasmo havia me contaminado aguçando o desejo de acompanhá-lo para o nosso primeiro passeio juntos.
Mais tarde já adulto pude compreender os motivos que o levaram a insistir tanto, como se eu fosse alguém tão importante. Ele quis fazer de mim seu seguidor, um discípulo na preservação ambiental cultuando a natureza.
Íamos à sesmaria nome de uma parte de sua fazenda, situada onde se cultivavam extensas lavouras de cereais em se tratando das áreas de terras mais férteis, circuladas por extensos brejais também cultivados, e com alta produtividade de arroz.
Em fim chegou o tão sonhado momento, após aguardar com ansiedade por três longos dias até que chegasse o sábado, para que eu não faltasse à aula. Saímos, ele calçando um par de polainas longas, usando um capacete modelo policial. Sua figura está eternizada em minha mente e sempre o visualizo imaginariamente nos momentos que me vem à lembrança, este nosso primeiro contato. Mais duas pessoas, cujos nomes não me recordo nos acompanharam. Tenho apenas uma lembrança e a certeza de sentir a mesma sensação que atualmente sente uma criança abastada ao visitar a Disneylândia.
Minha primeira surpresa foi o encontro com uma multidão de sapinhos que vinham ao nosso encontro na direção do cerrado. Fiquei encantado. Nunca vira tantos animais tão pequeninos e por mais esforço que fizemos foi difícil não pisarmos em vários deles, uma vez que cobriam toda a área da estrada. Satisfazendo minha curiosidade ele explicou-me que se tratava de uma migração. Um capricho da Natureza transferindo-os para fugir das cheias que aproximavam com as chuvas contínuas que chegariam muito breve. Quando ocorre este fenômeno, temos chuvas até por noventa dias seguidos alagando os brejais, explicou-me. - O que é fenômeno? ... Perguntei!
–Fenômeno é um acontecimento extra-ordinário, inesperado, mais um capricho da Natureza!
Dando continuidade ele descreveu o ciclo evolutivo de vida daqueles pequenos anfíbios, com suas transformações metamórficas até ao ponto de se migrarem, voltando ao pântano mais tarde em idade adultos, para procriarem nos alagados.
Caminhávamos pausadamente, deixando para trás aquela estrada branca, arenosa, cortada pelo os carros de boi. Na medida em que avançávamos, deslumbrados, meus olhos embarcavam todas as maravilhas do encantador cenário. Arvores centenária, onde uma diversidade de pássaros, de todas as cores, formava uma genial orquestra numa sinfonia de rara beleza. Ao fundo arrebatado do ventre da terra um gigantesco olho d’água formando o belo e límpido lago azul que partia ao meio o imenso pântano indo desaguar no rio picão. Para mim um pequeno oceano com variados cardumes, espécies que eu jamais vira. Encantei-me com o malabarismo das espécies que disputavam cada inseto que batia contra a água, suas escamas espelhavam contracenando os raios do sol que refletiam magnificamente no leito as cores que me pareceram fábricas de arco-íris. Belas aves aquáticas mergulhavam no seu caudal buscando seus petiscos. Às margens do pântano macacos micos e insetos coloridos compartilhavam espaços nos arbustos floridos. Mais ao fundo a paisagem apresentava um tapete verde agropastoril sob um céu infinitamente azul, como se um pano de fundo para um bando de garças brancas que continuamente sobrevoavam inspecionando as áreas alagadas. A fragrância das flores aromatizava o ar combatendo o cheiro podre dos brejais. Carregada de perfume a brisa tocava-me o rosto de leve, carinhosamente, como se tivesse me dando boas vindas ao paraíso encantado que eu julgava diante de meus olhos.
A essa altura senti-me como parte daquele fabuloso paraíso, ouvindo detalhadamente o discurso que vovô passava-me explicando as funções de cada animalzinho que compunham a natureza. Eis que derrepente um gaviãozinho azul que flutuava borboleteando no ar deu um mergulho rasante como se fosse estourar contra o chão. Fiquei curioso, e ele explicou-me que aquela pequena ave de rapina estava apenas cumprindo a lei natural da selva, lutando pela sobrevivência, a esta altura o pássaro já ia bem longe levando nas garras sua presa talvez para alimentar os filhotes. Esta é a lei natural da floresta concluiu. Deslumbrado de emoção eu tentava escolher onde encontrar maior beleza, se naquele mundo ecológico ou na figura de meu avô, um ecologista nato.
Ao voltarmos para casa nossas imagens já se confundiam com as silhuetas das árvores alongadas pelo sol se escondendo no poente. A brisa soprava suave empurrando o ar frio. As aves de hábitos noturnos começavam a se espalhar em sua jornada, misturando seus cantos e gritos com o coaxar das rãs, e bem no fundo muito distante a piarem triste, as corujas, anunciavam mais uma noite sem luar. Iluminada por miríades de vaga-lumes e lacraias que se espalhavam pelos brejais como se fosse um fundo espelhado refletindo o infinito coalhado por bilhões de estrelas.
. (Obs.: lógico que naquela idade eu interpretava com a minha maneira de menino chucro, e não com esta concepção atual).
OBS: (IMAGEM GOOGLO)