O Presente
Eu me lembro daquele velhinho de uma forma muito especial. Mais parecia um gnomo saido das estórias infantis que me encantaram do que um simples mortal. Ele era muito pequeno e tinha a pele enrrugada, muito clara, mas ao mesmo tempo castigada pelo sol.
Conseguia contar estórias de uma forma singular, às vezes rudes e grotescas mas sempre belas.
Contou-me, com seus olhinhos brilhantes como se fossem de menino, da sua primeira visão, que imaginei ser da sua mãe já falecida, mas nada disso, a sua primeira visão, foi de um fordeco, um carro que não era puxado por cavalos.
Ele descrevia a cena como um momento mágico e para ele o foi, ele já era rapaz, usando calças pescando siris ( os rapazes cresciam mas continuavam a usar as mesmas calças de quando eram menores) juntou-se a um bando de garotos que seguiam o primeiro carro que chegara à cidade. Lá de dentro, o fazendeiro, dono do carro, buzinava insistentemente e não era uma buzina comum, bi-bi, fom-fom, ela fazia um som grotesco, arrugue, arrugue.
Eles seguiram o carro por várias ruas, até chegarem a uma ladeira, quando o motorista deixou o carro morrer e este começou a descer a ladeira abaixo, ameaçando atropelar quem vinha atrás. Foi uma tremenda correria, todos pulando para os lados, mas ninguém se machucou e fizeram em coro ... aaaaaah!
E arrematou, parecia um burro desembestado que vinha em cima de nóis.
Numa outra feita, estávamos na sala do chalé, uma linda casa beirante ao rio e ouvíamos o noticiário. Na época, o rádio era a primeira fonte de notícias. O som, às vezes límpido e claro, era mesclado com ruídos graves e apitos agudos que não permitia que ouvíssemos as orações por inteiro e cada um dava a sua interpretação, jurando ter ouvido a notícia de acordo com a sua versão.
Durante a segunda grande guerra mundial quando Hitler mandou seus exércitos invadir e ocupar a Polônia e o fez com muita facilidade, o velhinho chamado de seu Presente, vaticinou:
- Polonês é frouxo, não fez frente aos alemães,quero ver quando quiserem invadir a Bélgica, aí eles vão comer fogo... Com os belgicanos não vão ter moleza... E eu, na minha inocente imaginação infantil logo criei uma fantasia em que o herói belgicano era como o super –homem, com super-poderes, voando, cortando os ares e humilhando o exército alemão.
Hoje, analisando os fatos, vejo naquele folclórico velhinho o meu verdadeiro herói que nunca, em nossa frente, dramatizava os horrores da guerra, não permitindo que as dores daquela época maculassem a nossa infância.
Foi assim que o seu Presente nos deu o maior presente, uma infância livre dos fantasmas e horrores da guerra.
Eu me lembro daquele velhinho de uma forma muito especial. Mais parecia um gnomo saido das estórias infantis que me encantaram do que um simples mortal. Ele era muito pequeno e tinha a pele enrrugada, muito clara, mas ao mesmo tempo castigada pelo sol.
Conseguia contar estórias de uma forma singular, às vezes rudes e grotescas mas sempre belas.
Contou-me, com seus olhinhos brilhantes como se fossem de menino, da sua primeira visão, que imaginei ser da sua mãe já falecida, mas nada disso, a sua primeira visão, foi de um fordeco, um carro que não era puxado por cavalos.
Ele descrevia a cena como um momento mágico e para ele o foi, ele já era rapaz, usando calças pescando siris ( os rapazes cresciam mas continuavam a usar as mesmas calças de quando eram menores) juntou-se a um bando de garotos que seguiam o primeiro carro que chegara à cidade. Lá de dentro, o fazendeiro, dono do carro, buzinava insistentemente e não era uma buzina comum, bi-bi, fom-fom, ela fazia um som grotesco, arrugue, arrugue.
Eles seguiram o carro por várias ruas, até chegarem a uma ladeira, quando o motorista deixou o carro morrer e este começou a descer a ladeira abaixo, ameaçando atropelar quem vinha atrás. Foi uma tremenda correria, todos pulando para os lados, mas ninguém se machucou e fizeram em coro ... aaaaaah!
E arrematou, parecia um burro desembestado que vinha em cima de nóis.
Numa outra feita, estávamos na sala do chalé, uma linda casa beirante ao rio e ouvíamos o noticiário. Na época, o rádio era a primeira fonte de notícias. O som, às vezes límpido e claro, era mesclado com ruídos graves e apitos agudos que não permitia que ouvíssemos as orações por inteiro e cada um dava a sua interpretação, jurando ter ouvido a notícia de acordo com a sua versão.
Durante a segunda grande guerra mundial quando Hitler mandou seus exércitos invadir e ocupar a Polônia e o fez com muita facilidade, o velhinho chamado de seu Presente, vaticinou:
- Polonês é frouxo, não fez frente aos alemães,quero ver quando quiserem invadir a Bélgica, aí eles vão comer fogo... Com os belgicanos não vão ter moleza... E eu, na minha inocente imaginação infantil logo criei uma fantasia em que o herói belgicano era como o super –homem, com super-poderes, voando, cortando os ares e humilhando o exército alemão.
Hoje, analisando os fatos, vejo naquele folclórico velhinho o meu verdadeiro herói que nunca, em nossa frente, dramatizava os horrores da guerra, não permitindo que as dores daquela época maculassem a nossa infância.
Foi assim que o seu Presente nos deu o maior presente, uma infância livre dos fantasmas e horrores da guerra.