O LEILÃO DE PRENDAS

Após a acolhida na casa do festeiro, a festa prosseguia, seguindo então a procissão em direção a Capela do bairro. Na frente ia os andores, um de São Sebastião, o protetor dos sitiantes do bairro e em um outro andor, a imagem da mãe de Jesus, Maria na pessoas de Nossa Senhora de Lourdes, padroeira do Vilarejo. Pelo trajeto seguiam os fieis, os homens se revezando para transportar o andor do Santo e as mulheres o de Nossa Senhora. Uma pessoa de voz forte puxava a reza do terço e a cada Gloria ao Pai, ao lado, o responsável pelo foguetório soltava um rojão que rebentava no ar, fazendo eco no vale e deixando uma pequena nuvem de fumaça no céu azulado. Assim caminhavam lentamente até a chegada na Capela, onde os santos eram recebidos com foguetórios, sendo disparados vários rojões simultaneamente ao mesmo tempo em que uma bateria de morteiro era acionada e, a cada bomba que estourava, a terra parecia tremer, é uma festança muito bonita.

Geralmente neste dia um sacerdote deslocava da cidade grande e vinha até o populoso bairro para acompanhar os festejos cujo ponto alto da fé era a reza da Santa Missa. Após os compromissos religiosos, seguia-se a festa com a sua parte social. No grande barracão nas proximidades da capela, seguia-se uma bela e animada quermesse com venda de bebidas e assados e lá fora, no coreto, o leiloeiro grita o leilão cujas prendas eram vendidas e a renda após cobrir os gastos do festeiro para a realização do evento, revertidos para o bem da comunidade. O Leiloeiro oficial do bairro era um velho italiano muito proseador e morador antigo naquelas redondezas, começa a gritar o leilão:

___ Atenção senhoras e senhores, vamos começar o nosso leilão de hoje e a primeira prenda é um delicioso bolo, doado pela Senhora Dinah, quanto me dão pelo maravilhoso prato. . . quanto me dão?

Alguém em algum ponto da festa grita:

___ Cinco reais !

O Leiloeiro tem os ouvidos aguçados:

___ Cinco reais é o lance inicial, é muito barato, num paga nem a lenha que foi gasto pra assar este bolo. Quem dá mais?

___ Seis Reais.

Grita alguém no meio do povo e o leiloeiro não perde o lance.

___ Seis reais o moço lá não vai mais comer o Bolo, por seis reais o bolo vai pra outra pessoa.

O leilão pega fogo e o leiloeiro ainda esquenta mais a disputa, e de reais em reais o valor do bolo já chega a trinta reais, um bom preço mas o velho leiloeiro tenta valorizar ainda mais a prenda:

___ Por Trinta reais eu vou bater o martelo e o bolo vai voltar pra casa de quem doou, quen dá mais ? Quem dá mais ?

Alguém ainda grita:

___ Trinta e Dois.

O Leiloeiro atento como sempre não perde o lance:

___ Por Trinta e Dois reais o bolo não vai mais pra casa de que doou. Por Trinta e dois reais o bolo vai para a rapaziada aqui. É Trinta e dois reais e vou bater o martelo.

O Leiloeiro faz uma pausa mas sabe que a prenda alcançou um bom valor no leilão:

___ Trinta e dois reais. . . eu vou bater o martelo, gente!. Trinta e dois reais dou lhes uma, Trinta e dois reais, dou-lhes duas.

O Leiloeiro ainda insiste mais uma vez;

___. . . quem dá mais, trinta e dois reais, trinta e dois reais e dou-lhe as três.

Pegando um martelo que esta na estronca do coreto, bate fortemente na madeira e arremata:

___ O bolo é da rapaziada ali.

E mostra com o indicador para um grupo de jovens que estão sentados embaixo da sombra de um frondosa mangueira, no pátio da capela. Assim entre uma prenda e outra o leilão vai enchendo os cofres da capela e vez por outra o velho italiano distrai o povo com suas lorotas e fitando o seu Néco português que conversava com Samuel, um mascate que segundo diziam era de origem turca, ambos moradores antigos naquelas paragens, disse:

___ Seu Neco, homem de Deus, Imagine o senhor que dois patrícios do Samuel se encontraram e foram almoçar no restaurante. Era comida italiana, comida muito boa, assim comeram que se fartaram mas quando foram acerta as contas, ferraram num perrenga danada. Um jogava a conta para o outro, o outro para o um até que o dono do restaurante, cansado daquela briga que parecia não ter mais fim, trouxe dois baldes de água e disse com a voz enérgica: Chega de tanta briga. Aquele que ficar mais tempo com a cabeça dentro do balde d’água, não paga a conta. Adivinhem o que aconteceu?

Todo o povo ali presente ficaram parados, prestando atenção para não perder o desfecho da estória e, como o seu Neco não deu resposta o leiloeiro arrematou:

___ Morreram os dois turcos afogados.

E o leilão prosseguiu, entrando noite adentro.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 23/07/2011
Código do texto: T3112706
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