O Rei faz a passagem

Aquele parecia um dia igual aos outros, amanhecia, mas novamente o Rei não se sentia bem. Mesmo assim ele levantou-se da cama, preparou o café da manhã e o saboreou junto com a sua neta, que estava morando com ele tinha três meses. Após o café, ele acompanhou a neta até o ponto onde pegaria um transporte. Ela dirigiu-se à escola e ele retornou para casa. Todos os dias, ele repetia essa pequena caminhada em companhia da neta. De volta a sua casa, ele sentou-se no banco do jardim, esperando que aquele mal-estar passasse logo. Desde a morte da sua esposa, a maioria dos seus dias, eram bem solitários, rotineiros e intermináveis

Como não era comum, ele comunicou-se com a sua filha ainda cedo da manhã. Falou sobre o que sentia e ouviu conselhos para que marcasse uma consulta com o médico. E assim o fez, após o que, comunicou-se com o filho mais velho para que esse o levasse ao médico algumas horas mais tarde. O filho por sua vez, não esperou o horário combinado e dirigiu-se imediatamente à casa do Rei. Quando estava em uma rua próxima da casa, o filho recebe um nova comunicação informando que o Rei não estava bem e que pedia sua presença urgente.

Ao chegar a casa do Rei, o filho o vê sentado na cama, mas ele não estava exatamente sentado, parecia que após sentar-se, ele deixou-se cair de costas, sendo que as costas não tocavam a cama, ele ficou suspenso a um palmo de distancia, como se ali houvesse uma força invisível amparando-o.

O filho postou-se ao seu lado e viu que o Rei estava revirando os olhos. Ele o segurou pela nuca e o Rei arregalou os olhos ao sentir o contato da mão. O filho fala qualquer coisa e o Rei senta-se. Ele explica o que está sentindo e o filho sugere irem ao hospital. O Rei começa a vestir-se, mas desiste e volta a deitar-se. O quarto está com a janela fechada e por isso está na penumbra, mas o Rei pede para fechar um pouco a porta pois aquela luz está incomodado seus olhos. O filho chama o médico e comunica-se com a irmã, esta vem ajudá-lo, chegando rapidamente ao local. Ao chegar, sua irmã pede ajuda a uma amiga que mora na vizinhança. Eles conversam com o Rei, que diz estar enfartando e que sente fortes dores nas costas e na nuca. Ele parace calmo. Eles ficam conversando com o Rei tentando animá-lo. Algumas vezes, ele tenta ficar sentado, mas sempre volta a deitar-se.

Com a chegada do médico, este o examina, verifica a sua pressão sanguínea e subitamente, o Rei faz uma expressão no rosto como se estivesse fazendo força. O médico diz que é um ataque cardíaco e rapidamente trabalha para reanimá-lo. A filha fala para que o Rei respire. O filho, apreensivo, faz uma oração mentalmente. O médico consegue reanimá-lo e o leva para o hospital. Nesse momento, o Rei faz a sua passagem para o plano espiritual, reencontrando e honrando a sua ancestralidade. Era dia de São João.