CHICO LOBO

Quando era pequeno, conheci um senhor muito atrapalhado.

Alto, magro, moreno, de bigodes até as orelhas. Não possuía dentes. Usava um chapéu de palhas, no estilo mexicano. Camisa de manga comprida xadrez, calça arregaçada até o joelho. Não usava sapatos, porque não se sentia bem. Gostava de usar botinas vermelhas, que ele mesmo pintava. Não ia ao barbeiro, porque ele mesmo fazia suas barbas e cortava seus próprios cabelos.

Chico Lobo, assim era chamado, porque andava muito à noite. Era corajoso e trabalhador. Plantava milho, feijão, algodão, laranja, batata e café.

Morava em uma casa muito humilde, coberta de sapé e de paredes de pau a pique, debaixo de uma plantação de bambu, cercada de mata fechada e um córrego passando no fundo da casa. Falava muito, gostava de rir, ria muito alto, até parecia que estava dentro de um circo e ele sendo o próprio palhaço. Não gostava de ir à cidade. Às vezes ia somente para comprar os objetos do lar. Ia aos domingos, bem cedo.

Na cidade, era visto como um verdadeiro palhaço de circo. Brincava com toda pessoa que cruzava seu caminho. Sempre feliz, rindo e fazendo rimas com as pessoas. Cito alguma rima que ele dizia:

- “ Sá Maria, não teu dou café, porque não tem vazia”;

- “ Dona Nazaré, a senhora está calçada e cheirando chulé”;

- “ Sá Ana, hoje não tem banana”;

- “ Sô fulano, onde está o pano”.

E assim por adiante. Sempre feliz vivia em seu mundo real.

Quando estava estressado, xingava até os aviões que passavam no alto, dizendo que eram um bando de vagabundos e até de “filho da ...” ele dizia.

Assim era seu mundo. Um mundo feliz, cheio de alegria, de brincadeiras e muito dedicado a sua família. Não tinha filhos, somente tinha sua esposa chamada Dona Maria. Muito meiga, muito humilde e muito calma.

Gostava muito de ir a sua casa. Somente não gostava na hora de tomar café, porque Dona Maria fazia um café tão fraco e muito doce, que meu estômago doía e me dava ânsia de vômito. Minha mãe me xingava e me obrigava a beber café.

Tantas foram as passagens vividas por Chico Lobo que ficaram armazenadas na memória.

Um dia eu o convidei para pescar. Prontamente ele aceitou. Pegamos as minhocas, as varas e um lanche. O tempo estava nublado e ameaçava chover, mas fomos assim mesmo.

Munidos de capa de chuva e de botas, chegamos ao córrego e começamos a pescar. Não pegávamos nada. Chico cantava, falava palavrões, gritava, imitava os pássaros, os cães, os gatos e tudo o que ele imaginava. Aos poucos eu começava a rir e propunha para que ele fizesse mais coisas engraçadas.

Nestas horas, muitos se esquecem do presente e começa a viver o passado, a recordar de várias cenas e deixa o mundo à vontade.

Em um momento, deu-se um relâmpago muito forte e um forte trovão. Assustei, mas assustei mais porque Chico Lobo levou um susto muito maior, perdeu o equilíbrio e caiu dentro dágua. Eu não sei nadar, mas Chico também não sabia e gritava por socorro. A chuva caia forte e com muita dificuldade consegui pegar um pedaço de pau e puxá-lo para fora.

Além de molhado, saímos tão rápido que esquecemos nosso material de pesca e até nossos lindos peixinhos.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 19/07/2011
Código do texto: T3106038
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