POTRANCA DE RICO

Para quem não conhece a expressão potranca explico que é a fêmea eqüina, ainda de pouca idade. Rico não é necessário qualquer informação, pois quem não é, deseja ser.

Pois amigos, nas fazendas do interior deste Estado, não poucas vezes nos deparamos com uma potranca, não interessa a raça, mas normalmente é crioula, muito bonita, não foi domada, jamais conheceu qualquer parte de uma encilha, tampouco cabresto ou rendilha.

Animal instintivo por excelência, dotado de grande compreensão, não fica na volta da sede da estância, a não ser na hora de receber os agrados do dono da estância na hora da ração, momento em que o estancieiro dá inúmeros carinhos na potranca, alisa a crina – aqui no sul se diz quilina -, afaga a cabeça do animal e, por incrível que possa parecer, conversa com seu belo exemplar e para quem tem sensibilidade, fica notório que aquele monólogo é um diálogo que o estancieiro mantém com sua potranca.

Feita a refeição – sim não me atrevo a dizer ração em tais circunstâncias -, ambos se despedem e a potranca sai em disparada em direção a uma parte mais alta da propriedade e, quando lá chega, dá um relincho forte e carregado de significado, espraiando sua crina no ar, nunca cortada nem aparada, como quem está a dizer algo assim: aqui é o meu reino, aqui estou feliz!

Normalmente esse animal fica com esse tratamento até que o fazendeiro resolve providenciar as “núpcias” para a sua potranca e, sem domá-la, passa a escolher o melhor parceiro para aquele maravilhoso exemplar da espécie eqüina.

Tudo é analisado pelo estancieiro nos possíveis parceiros daquela potranca, como estatura e comportamento no pretendente, além da linhagem, por óbvio.

Até que um dia, como se iluminado pela divindade, o fazendeiro acorda pela manhã sabendo qual será o candidato escolhido para procriar com a sua potranca, o que assegurará à estância a manutenção da linhagem daquele magnífico espécime.

E assim a natureza cumpre o seu desiderato!

Daquele dia em diante ela não mais será potranca, posto que agora abrigue em seu ventre a certeza de que seu reinado continuará existindo, na medida em que já tem sucessor.

A potranca nasceu para ser nobre e o fazendeiro entendeu tal desígnio.

Nesse estágio ela se torna genitora de mais um monarca para a estância, sem jamais conhecer encilha, cabresto ou rendilha.

Finalizando, afirmo que situações como a aqui narrada também poderão ocorrer entre os humanos e eu acredito que conheço uma pessoa a qual defiro carinho paternal que se enquadra perfeitamente na definição de POTRANCA DE RICO!

Com certeza, quando ela ler este conto dar-se-á de conta!