O TRAGO DO FREGUÊS
Este fato aconteceu na localidade hoje conhecida como Rincão do Progresso, no terceiro distrito de Canguçu – RS, na venda do “Seu Terico”, apelido carinhoso que os amigos deram a Antero Soares Ribeiro, comerciante do ramo de “secos e molhados” e dono de um salão de baile.
Na venda do “Seu Terico” havia todos os “precisos” para o gaúcho, do peão ao patrão e também para a prenda.
Nos bailes realizados no salão do “Seu Terico” não havia seguranças, mas sim um homem de elevada idoneidade moral, chamado João Aguiar, que exercia o honroso cargo, sem remuneração alguma, de Mestre Sala, sendo sua a responsabilidade da decência no baile e também de impedir eventuais peleias. Tudo era feito baseado na autoridade moral do Mestre Sala.
O “Seu Terico”, por sua vez, embora tivesse uma aparência de figura com poucos amigos, na verdade era um homem dotado de elevado conceito naquelas bandas, além de ser um homem muito brincalhão, sempre atento às oportunidades que pudessem surgir para que ele aprontasse aos seus amigos e fregueses.
Um de seus clientes era o também conhecido da região Décio Oliveira da Cunha, homem estimado e de boa-fé.
Certo dia Décio chegou à venda do “Seu Terico” montando uma potranca zaina de primeira categoria, daquelas recém domadas que não conseguem parar de se mexer mesmo quando amarradas pelo cabresto.
Chegando à venda fez suas compras e foi logo pedindo o “trago do freguês”, brinde que o “Seu Terico” fazia questão de dar aos apreciadores da boa cachaça.
Acredita-se que já de caso pensado, o “Seu Terico” colocou um copo bem grande de canha da boa para Décio que se entusiasmou com o agrado, tomando todo o copo.
Enquanto Décio se deliciava com o generoso “trago do freguês”, o “Seu Terico” foi lá no palanque onde se encontrava a potranca zaina, pegou o laço que estava enrodilhado na anca da égua e amarrou uma ponta no palanque, deixando a outra presa nos tentos da encilha, voltando para dentro da venda.
Na hora da saída, Décio já aparentava algum sinal decorrente do álcool, de maneira específica a euforia.
“Seu Terico” lhe acompanhou até a rua e fez um rasgado elogiou à potranca zaina o que aumentou a euforia do freguês.
Foi então que Décio montou na potranca e, orgulhoso como um monarca, para demonstrar que realmente era um exemplar de primeira, ferrou as esporas e o animal respondeu como um risco.
Imaginem o estrupício quando o laço estirou amarrado no palanque numa ponta e na encilha da potranca na outra ponta.
Demoraram alguns dias para encontrarem toda a encilha e as pilchas do velho Décio, isto para não falar nos arranhões que o vulto sofreu em quase todo corpo, necessitando de cuidados para sua recuperação.
E a potranca zaina?
Bueno essa enquanto viveu nunca mais chegou à venda do “Seu Terico”, pois mesmo não tendo entendido o que havia ocorrido, sabia que aquele local era de grande perigo!