Cobrança
Cobrança
Seu Fulano tinha idade. Quieto de boca, mal aparentado. Era dali. As redondezas o conhecia. Viúvo, só, nem filho nem nada. Servicinho aqui acolá outro. Coisa pouca. Podia com pequena lida, tinha idade, muita vida se ia. Quis dinheiro de Cicrano, mas foi pouco. Depois de Beltrano outro pouco. Era pro fumo, querosene, cachaça, açúcar... E a se ia. O combinado já pra mais de meio ano vencido e nada. Cicrano e Beltrano fizeram intentos, iam cobrar o devido na casa de Seu Fulano.
Chegaram ainda bem de cedinho, o galo sacudia a crista carnuda, já cantado. Palmas... Palmas... Ô de fora! Sai Seu Fulano, fumando, e querendo saber. Foi ser prestável. Falaram tudo, tim tim por tim tim. Queriam. Seu Fulano parado. Formava ideia. Pela vista notava os dois. Que vergonha. Decide. Outra forma não lhe ocorrera. Que esperassem, pede, já voltava. Casa adentro, demorou. Enquanto no quintal, coberto de grama, pra o cobrado assentados ficaram. Achavam-se sem paciência. Expectativa. Um no outro olha, que pensava estar pensando a mesma coisa. Receberiam ou seriam enganados. Coisa tal, na cabeça nunca esteve. Quem aquilo esperaria?. Quando de lá, dentro afora, seu Fulano. Mão na arma. Espaventado, fisionomia arrependida, não podia dar-se em troco de maledicência. Abatido valia-se do que planeou. Mostrou arma. Cicrano e Beltrano já de pé. Tentaram desdizer-se. Quiseram se ir. Que esperassem. Era de se resolver hoje. Não se dava a difama. Tinha brio. Mas os outros oram passando-se de lado. Pra lá, longe de vista, sem prudência, apressadamente, disparados. Atropelados um pelo outro extinguiram-se dali. O devido nem mais queriam. Seu Fulano olhou tudo. Inocente. Pagaria, a arma era de valor.