Benedito, o enviado do Papa

Benedito e o enviado do Papa

O padre Ignácio estava contente, mais contente que nos outros anos por ocasião das comemorações em homenagem a Nossa Senhora Aparecida. Tanta alegria era porque, quem iria realizar a missa na cidade que guarda a Santa, vindo especialmente de Roma, representando o Papa Pio XII, e por sinal, muito amigo do padre Ignácio desde a infância, era o Cardeal Fialho.

A cerimônia seria feita pelo Cardeal que em seguida seguiria para Pinda, onde passaria o resto do dia e pernoitaria na cidade para visitar o velho amigo. Já eram cinco horas da tarde, e nada do Cardeal chegar. Padre Ignácio estava em pé na porta principal da Igreja de São José, a mais de meia hora, e dali avistou nada mais nada menos que seu antigo sacristão, Benedicto “com c depois do i e antes do t”, mas para os íntimos... Ditinho, eta menino danado, mas de bom coração... O padre resmungou...

“Ai meu Deus, mas bem o Ditinho... será que peço pra ele me ajudar?”.

Diante daquela espera interminável e cansativa, o padre se rendeu e chamou o menino...

“Ditinho quer ganhar um docinho”

“Cade a vassoura padre”

“Não vai precisar vassoura filho”

“Eeeeeee, lá vem o padre pedir coisa difícil”.

“Não filho, hoje é fácil. Sabe o que Ditinho! Estou cheio de afazeres e hoje chega um velho amigo meu para me visitar... E eu preciso que você fique aqui, e quando vê-lo chegar, me chamar... ta bom?”.

“Tá bom padre eu aviso... mas como eu vou saber quem é?”.

“Bom ele se chama Fialho e deve chegar num carro preto com seu motorista, meu amigo tem a pele bem clara e é calvo”.

“Nossa padre que nome feio, o homem chama Alho e é Alvo... Alvo de que?”.

“Não Ditinho... Ele chama FIALHO e é CALVOOOO, Careca... Sem cabelo...”.

“Ah entendi!”.

“Entendeu mesmo menino... num vai me aprontar heim”.

O Cardeal saiu de Aparecida e quem dirigia o carro era um rapaz de pele negra, alto e magro. Porém, no caminho o pobre motorista havia ingerido alguma coisa que lhe fez passar mal, e sem condições de dirigir parou o carro na beirada da pista, desceu para ver se um ar faria melhorar sua situação, mas não teve jeito...

“Padre me desculpe... eu estou muito mal...”.

Diante da situação o bom padre passou o braço pelas costas do rapaz, virou-o em direção ao carro, ajudou-o a entrar pela porta traseira do veículo, acomodou o infeliz. Foi até o porta-malas, pegou um cobertor marrom que lá estava, e cobriu o motorista.

“Puxa padre que vergonha”

“Vergonha de que filho... deixa comigo, eu já estava com saudades de dirigir mesmo”.

E assim seguiram viagem e rapidamente chegaram a Pinda, e logo à frente da igreja de São José, lá estava àquela figurinha carimbada na porta esperando. Ditinho avistou o carro, ficou de pé... O carro parou na porta da igreja... Ditinho deu alguns passos em direção ao carro, olhou para dentro e viu que quem dirigia o carro era o senhor com as mesmas características que padre Ignácio descrevera.

Antes que o cardeal falasse uma palavra, o menino saiu correndo aos gritos pra dentro da igreja.

“Padre vem logo... Padre vem logo”.

“Que, que isso Ditinho ficou doido menino?”.

“Corre padre, vem logo”.

“Oras, o que é que aconteceu, correndo e assustado o padre não sabia o que pensar de pior...”.

“Vem vê padre”

Logo se aproximaram do carro e, surpreso, padre Ignácio perguntou para Ditinho.

“Que foi menino... pensei que você tinha visto assombração”.

“Olha ai padre,... é um milagre... o senhor não me disse que o seu amigo era motorista de um homem tão importante” E apontou para o banco de trás.

Foi ai que padre Ignácio olhando para trás do banco, onde estava o homem negro coberto com um tecido marrom, que ainda não estava bem de saúde e sem nada entender fitou o cardeal que estava na direção do carro, e finalmente com ar curioso exclamou...

“Ditinho, que foi dessa vez”.

“Como que foi..., veja com seus próprios olhos, olha lá, seu amigo é importante mesmo! ele é motorista de São Benedito!!!”

Ora Ditinho, que espanto é esse? Não deu tempo de explicar Ditinho saiu correndo dizendo que iria chamar sua mãezinha... Devota do Santo.

Marcos Pestana
Enviado por Marcos Pestana em 13/07/2011
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