O alistamento do Saratiel

Saratiel vivia em uma humilde cidade do interior onde o comércio geralmente era feito por caixeiros viajantes. A cidadezinha não tinha nem luz elétrica. Demorou dezessete anos, mas chegou o dia... Quinze de março de 1968. Saratiel acordou cedo para alistar-se. Tomou seu lanche matinal despediu-se da mãe e saiu.

Chegou no ponto de ônibus meio preocupado, toda essa ansiedade com o alistamento, no jantar talvez alguma coisa tenha feito mal, mas a vontade não veio, e as necessidades fisiológicas acabaram ficando para depois... O depois não demorou muito... Já dentro da jardineira cheia de passageiros sentados e em pé, lá foi o agoniado. Posicionou-se lá na frente, três carreiras de poltronas antes do motorista. Passados alguns minutos da longa jornada de mais duas horas até a cidade grande ele não resistiu... Pensou preocupado...

“Ai, não agüento segurar mais, vou soltar só um punzinho”.

O que foi que aconteceu? O punzinho além de molhar seus fundilhos fez também com que uma senhora que estava sentada ali ao lado falasse indignada...

“Quem tem um desses não pode andar em um coletivo”.

As pessoas olharam uns para os outros com fisionomia de nojo. Saratiel olhou para o teto do transporte como se nada tivesse acontecido. Foi uma senhorita levantar-se e sair de perto dele para outros também imitarem o gesto. O dono do ovo como se nada tivesse acontecido olhou para os vários acentos vagos escolheu um e sentou-se, fechou os olhos e cochilou.

No ponto final foi preciso o condutor sacudi-lo para despertá-lo, porém com o nariz tapado...

“Nossa que rápido... Já chegou...?”. Levantou-se, sentiu algo meio colante no banco do ônibus olhou e viu a uma marca redonda de umidade. Ai-ai-ai... Saiu de fininho.

Não dava tempo de nada, faltava apenas cinco minutos para chegar na central de alistamento. Chegou em cima da hora, entrou na longa fila, e em poucos segundos já contava com uma falha... Ou seja, os que estavam a sua frente foram mais pra frente e os de trás mais pra traz, fazendo com que Saratiel ficasse isolado.

A longa fila começou a andar somente às nove horas da manhã, uma hora depois de ter chegado. Além do sol quente daquele dia e as horas passando a catinga ia ficando insuportável. Saratiel percebendo a situação complicada com a aproximação do setor de avaliação física ia enquanto podia, passando outros da fila na sua frente, fato que despertou a curiosidade de um guarda que intrigado não deixou mais nenhum passar.

Chegando então lá dentro mais uma turma de trinta jovens, entre eles Saratiel. O sargento ordenou...

“Atenção! O último que tirar a roupa vai ficar para limpar as latrinas”.

Foi um corre-corre geral, todos ali se despelando, menos um, o envergonhado Saratiel. Percebendo o rapaz imóvel o sargento aproximou-se e falou...

“Tire logo a roupa mocinha, não se preocupe que aqui ninguém vai se impressionar com um espécime tão feio”.

Quando Saratiel baixou as calças, os jovens que já mantinham distância se afastaram mais O sargento saltou enojado e ordenou...

“Soldado rápido, pegue a bomba de fritz com desinfetante e de um banho neste nenê cagão!”.

E, foi assim o alistamento do recruta Saratiel, que teve como função principal no quartel lavar latrinas por toda a sua estadia militar.

Está é uma história verdadeira!

Marcos Pestana
Enviado por Marcos Pestana em 12/07/2011
Código do texto: T3091267
Classificação de conteúdo: seguro