ZÉ DO LAÇO

Zé do laço era desses que de nada arredava. Pra ele nem assumbração causava medo. Era assim um sujeito tinhoso de brabo e bão que só da gota era nas redondezas conhecido por sua valentia.

Zé do laço desde menino aprendeu a ser homem, era sem pai nem mãe, era criado por outro Zé, esse da bica, pai de 15 filhos e mais o Zé do laço, que era de cria, desde que o pai caiu de montaria, também tinhosa, e a mãe, moça nova, morreu de parto.

Então, Zé do laço aprendeu laciá desde menino, era famoso nas cercanias porque certo dia salvou Tinoco que ia caindo na ribanceira e se não fosse Zé, que naquele tempo era só Zé, jogar seu laço, coitado de Tinoco, certamente aos trinta não chegaria. A fama logo correu o vilarejo e Zé, que era só Zé, desde aquele dia ficou Zé do laço.

E assim se sucedeu, Zé cresceu e sua valentia igualmente com ele também crescia. De modo que contava nas redondezas que certa fastasmagoria assumbrava toda gente que naquela tira de terra passava. Nunca ninguém viu, mas se contava que nem o padre enfrentava aquela ladainha, que nem protegido por todos os santos, sua reverendíssima, não arriscava nem uma pina. E mais, diziam que se a noiva as vésperas de fazer bodas por lá passasse, tudo ia pro brejo, o casório não acontecia e a noiva, coitada, pra tia sempre seria.

Tudo ia conforme desde pequeno Zé do laço ouvia, e chegado o dia de casá com Mariquinha, linda moça das terras vizinha, Zé do laço que não era de esperar o azar sentado, foi tirar a limpo essa tal de assumbração. E chegando no ponto por todos conhecido, lá Zé do laço ficou. A noite deu sua graça, as estrelas sua luz e quando já ia raiando o dia viram Zé do laço com um saco na mão. Perguntado o que era, respondeu que tinha laçiado a assumbração. Ninguém pediu pra ver, mas já se sabe que a fama de Zé do laço correu ainda mais por todo aquele sertão.