CAÇADA DE TEIU

— Vamos caçar teiú? Perguntou o Nego.

— Vamos. Topei na hora.

— Então chame os cachorros.

— Certo, E onde vai ser?

— Na roça nova. Vamos aproveitar que os meninos (os irmãos mais velhos) estão trabalhando lá se não a mamãe não deixa.

O teiú é uma espécie de lagarto muito comum em todo o território brasileiro. Durante o inverno vive em tocas, mas quando surge a primavera ele volta à ativa, portanto, o período bom para caçá-los é a partir de novembro. Sua carne é muito apetitosa, mas não tem muitos apreciadores. Mamãe por exemplo, se recusava a prepará-la, não sei por que, talvez alguma questão cultural, mas, isso não era um problema, nós mesmos caçávamos, limpávamos e chamava o bicho no coentro.

Papai tinha no sítio um pedaço de roça nova, ainda estava na primeira destoca, um ótimo lugar para essa prática. Chamei os cachorros, o Peri e o Deserto (velho conhecido dos leitores) e lá fomos nós.

Assim que chegamos, os cachorros acostumados que eram imediatamente farejaram o chão e não demorou muito acuaram o bicho, que para escapar com vida entrou no oco de um tronco que tinha nas proximidades, o que dificultava a ação dos cachorros.

O Peri como era um cachorro grande, não dava para entrar no oco, mas o Deserto, esse sim, ele era até comprido, mas baixinho e fininho, pena que era medroso de mais, tinha um medo de lagarto que só vendo, ia pra caçada no embalo dos outros.

Apesar de toda essa desqualificação, o Deserto era acima de tudo atrevido e foi graças a esse atrevimento que se propôs a entrar atrás da caça.

Nesse meio tempo, meus irmãos, que estavam descoivarando a roça ouviram os cachorros acuarem e foram ver o que acontecia. Quando chegaram, mostrei a eles onde o lagarto tinha entrado, e então eles começaram a cortar a outra ponta do tronco com o machado para atingir o oco na outra extremidade e com isso afugentar o animal.

Do Deserto, só ouvíamos seus latidos abafados dentro do tronco.

— Auuu.... Auuu....

Quando meus irmão atingiram o oco na outra extremidade, começamos a cutucar com uma vara e o bicho resolveu sair.

Deduzimos que numa dessas latidas o teiú entrou na boca do cachorro, e ele, por instinto, mordeu e recuou trazendo consigo o lagarto, visto que quando saiu e percebeu o que tinha na boca, não deu outra, medroso do jeito que era, com o susto caiu de costa e se pôs a gritar.

— Caiaaim.... Caiaaim.... Caiaaim...

Ele sempre fazia isso quando se via em apuros, o que não havia necessidade de tanto escândalo, pois o Peri, cachorro treinado, imediatamente entrou em ação.

Refeito do susto e depois do bicho morto, ai sim, ficou valente, mordia o lagarto de todo jeito, rosnava e o arrastava de um lado para outro numa prova fiel daquele velho ditado popular: “depois da onça morta, todo mundo é valente”.

Las Vegas
Enviado por Las Vegas em 09/07/2011
Reeditado em 30/01/2015
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